De um total de 250 MBT Leopard 1A5 BR que o Exército Brasileiro recebeu a partir de 2009, cerca de 220 ainda operam na região sul do País.
Outros 39 Leopard 1A1Be, sobreviventes de um lote com 128 carros antigos adquirido da Bélgica em 1997 (SABIEX) devem ser descarregados em breve.
Armados com o venerável canhão Royal Ordnance L7A3 de 105 mm, tanto o carros do contrato alemão quanto os M-60A3 TTS norte-americanos chegaram ao Brasil em excelentes condições funcionais e completamente obsoletos segundo os padrões atuais de avaliação para sistemas de armas.
Discussões para atualizar os Leopard brasileiros acompanharam a vida operacional do carro enquanto o Exército assimilava importantes lições sobre a logística de manutenção alemã, diferente do sistema norte-americano empregado nos M-60A3 TTS (28 unidades operacionais sobreviventes de 91 recebidas) e sobre como relacionar-se com a indústria para negociar contratos de manutenção e suporte logístico.
O Grupo Tarefa Nova Couraça, formado majoritariamente por militares ligados ao assunto, constatou na prática que a época para modernizar os Leopard 1A5 (e também os M-60A3 TTS) havia passado, ainda mais que o contrato de manutenção assinado com a KMW do Brasil para os Leopard chegará ao seu fim em 2028.
Aproveitar todo o aprendizado e a estrutura criada para manter e operar os Leopard (e os M-60), adaptando o que for necessário para a aquisição de um novo veículo é a linha de ação a ser adotada, segundo fontes no Exército Brasileiro ligadas ao tema.
Portanto, os Leopard e M-60 seguirão na condição atual até a sua aposentadoria, mas a decisão sobre que tipo de veículo irá substituí-los ainda vai demandar muitas reuniões e discussões entre operadores, mantenedores e a indústria, especialmente por que a questão “feito no Brasil” será determinante na definição de um vencedor.
Acredita-se que o contrato poderá demandar a encomenda de até 350 veículos, segundo especialistas na área.
Opções no mercado
O advento da pandemia do COVID-19 no início de 2020 determinou mudanças em alguns estudos e programas das três forças armadas brasileiras.
Ganhou corpo dentro da Força Terrestre, através das conclusões do Grupo Tarefa Nova Couraça, sobre o desenvolvimento de um novo veículo blindado em parceria, algo que seria tecnologicamente, economicamente e militarmente mais vantajoso, considerando a vida útil de um veículo blindado de projeto atual.
Entre os projetos mais promissores para atender aos requerimentos de um blindado de combate na casa de 40/50 toneladas, segundo fontes do Exército Brasileiro, destacam-se as ofertas do CV90, da BAE Systems, ASCOD 2, da General Dynamics Europe Land Systems, e uma proposta Governo a Governo de Israel, todos apresentando torres equipadas com arma principal de 120 mm, confirmando que o canhão L7A3 de 105 mm será definitivamente aposentado no Brasil em termos de carros de combate sobre esteiras.
O CV90 da BAE Systems
A BAE Systems oferece o desenvolvimento em parceria com o Brasil de uma família de blindados leves/médios criados originalmente pelas empresas Hägglund & Söner e Bofors AB.
O CV90 sueco (Stridsfordon 90 ou Strf90) foi armado originalmente com um avançado canhão de 40 mm, enquanto os modelos de exportação receberam um canhão de 30 mm e uma metralhadora coaxial de 7,62 mm.
O veículo inicial entrou em serviço com a Suécia em 1993 e foi exportado para a Dinamarca, Finlândia, Holanda, Noruega e Suíça.
Sua versão MMBT, um desenvolvimento baseado no modelo MK IV, deu origem ao CV90120-T, pesando cerca de 35/45 toneladas e equipado com canhão RUAG CTG de 120 mm de alta pressão e baixo recuo, totalmente estabilizado.
Essa arma dispara munições de 120 mm modernas padrão NATO/ OTAN, e um total de 45 rodadas podem ser transportadas. A cadência de 14 tiros por minuto é obtida usando um sistema de remuniciamento que utiliza dois carregadores semi-automáticos tipo revólver, cada um contendo cinco tiros para pronto uso.
Além de disparar munições dos tipos APFSDS-T (flecha perfurante) e HEAT-MP (explosivo químico), o compact tank gun ou CTG pode disparar munição HE (alto explosivo) desenvolvida na Suécia.
O MBT CV90120-T está equipado com um sistema de controle de fogo computadorizado e miras diurnas/noturnas estabilizadas. O sistema de gerenciamento de campo de batalha integrado do veículo garante elevada consciência situacional.
A blindagem modular do CV90120-T pode ser configurada para vários níveis de proteção e o interior é forrado com material do tipo spall liner capaz de segurar munição perfurante de 30 mm. Blindagem reativa explosiva também pode ser instalada para oferecer um nível de proteção ainda maior mas com um sensível acréscimo de peso.
A capacidade aumentada de sobrevivência inclui sistemas defensivos de alerta de aproximação de mísseis e foguetes, iluminação por radar e/ou laser inimigo e sistema de contramedidas ativas de aerossol multiespectral para despistar mísseis guiados anticarro.
ASCOD 2
O ASCOD 2 surgiu como um desenvolvimento austro-espanhol (Steyr-Daimler-Puch AG e Santa Bárbara Sistemas) de um veículo de combate de infantaria (IFV) armado com canhão de fogo rápido capaz de acompanhar os Leopard 2A4 de ambos os países.
A General Dynamics European Land Systems (GDELS) está oferecendo esse carro ao Exército Brasileiro equipado com a torre 120 mm HITFACT fabricada pela Leonardo Defense Systems.
O Tanque de Batalha Principal Médio (MMBT) ASCOD é baseado em um chassi modificado da plataforma de veículos multiuso ASCOD.
Com um peso bruto de 42 toneladas, é equipado com um moderno canhão principal de alma lisa de 120 mm, metralhadora coaxial 7,62mm e estação remota de armamento com metralhadora pesada de 12,7 mm.
O canhão principal é acoplado a um sistema de controle de fogo computadorizado, dando ao comandante e ao atirador miras diuturnas / térmicas estabilizadas que incorporam um telêmetro a laser.
A arma de 120 mm dispara munição padrão NATO/OTAN de alta eficácia.
O fator Israel
As indústrias de Defesa de Israel apresentaram ao Exército Brasileiro propostas de modernização dos MBT Leopard 1A5 e M60 A3 TTS durante a visita do comandante do EB a Israel, realizada no final de 2019.
Com a decisão brasileira pela não modernização dos Leopard e M-60, a opção de produzir-se localmente um substituto teria aberto uma oportunidade para o estabelecimento de uma ampla parceria Governo a Governo entre Brasil e Israel que resultaria, se tudo for aprovado, na produção local de um veículo de combate para o Exército Brasileiro com apoio de empresas israelenses, segundo fontes ligadas a indústria.
As relações bilaterais entre os dois países estariam atualmente no mais alto nível, inclusive no aspecto político, diplomático e comercial, favorecendo essa linha de ação.
Recentemente, por exemplo, uma empresa de defesa israelense, a Elbit Systems, intermediou a exportação de 28 blindados brasileiros IVECO Guarani 6x6 para o Exército das Filipinas como parte de um contrato que envolve também a entrega de carros de combate ASCOD 2 sobre lagartas e blindados Pandur II sobre rodas.
Conversações bilaterais também estão em andamento com outros fabricantes e governos estrangeiros.
Imagens: Roberto Caiafa, GDELS, BAE Systems, ELBIT Systems