A Arma de Artilharia do Exército Brasileiro (EB), de acordo com os Requisitos Operacionais Básicos (ROB) publicados nos Projetos Estratégicos do Exército (PEE) precisa passar por uma atualização. Os obuseiros auto-rebocados em uso são muito pesados, complexos e com alcance insuficiente, demandam mais soldados por peça, apresentam baixa mobilidade e cadência de fogo sofrível. Com o advento da simulação virtual no EB, após a introdução do simulador Sistema de Apoio de Fogo (SAFO) na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e no Centro de Avaliação e Adestramento Sul (CAA-Sul), ficou patente a inferioridade tecnológica dos artilheiros de campanha brasileiros e a necessidade de atualização do material e da doutrina.
Nos estudos da Nova Força Terrestre do século XXI, surgiu o conceito da Brigada de Infantaria Mecanizada capaz de operar integrada na Defesa Nacional ou como Força Expedicionária auto-suficiente. Essa tropa terá como premissa alta mobilidade aeroestratégica e agilidade no deployment, grande poder de fogo e uso de recursos tecnológicos atualizados. O investimento em modernos obuseiros autopropulsados de 155 mm sobre rodas, capazes de entrar em posição, realizar o tiro, e sair de posição antes dos fogos de contrabateria do inimigo, acompanhando a velocidade do avanço das peças de manobra da Brigada, tornou-se uma necessidade. O custo desse tipo de sistema pode ser amplamente compensado com a produção local e consequente qualificação de mão de obra para trabalhar na manutenção de avançados sistemas de artilharia de longo alcance, usando as próprias instalações do Exército. Infodefensa lista a seguir duas propostas apresentadas ao Exército que atendem aos requisitos colocados, incluindo montagem local com transferência tecnológica, os obuseiros AP sobre rodas 6x6 CAESAR e ATMOS.
CAESAR, a proposta da Avibras/NEXTER
Na Eurosatory 2014, a Avibras Aeroespacial e a Nexter anunciaram uma parceria para oferecer uma versão "BR" do sistema de artilharia autopropulsado sobre rodas CAESAR, de 155 mm, para o Exército Brasileiro. Atendendo a um requerimento do Projeto Estratégico do Exército Recuperação da Capacidade Operacional (PEE RECOP) sobre artilharia de tubo autopropulsada, a empresa deu início aos estudos sobre a viabilidade industrial de se integrar e montar um sistema autopropulsado sobre rodas no Brasil. Toda a parte motriz será montada em chassis 6X6 da TATRA, e os modernos sistemas de controle de tiro, navegação, comando e controle e criptografia desenvolvidos para o Astros 2020 serão incorporados à versão "BR" do CAESAR e aos demais veículos utilizados pelas baterias e pelo comando do grupo de artilharia, conferindo assim grande comunalidade de equipamentos de alta tecnologia fabricados no Brasil. Segundo a empresa brasileira, os chassis 6X6 TATRA atendem com sobras todas as necessidades e parâmetros do tubo de 155 mm. Nesses estudos, a produção local da munição a ser utilizada pelo CAESAR deverá ficar a cargo da Empresa de Gerenciamento de Projetos Navais (ENGEPRON), a única companhia brasileira, no momento, capacitada a trabalhar com o calibre 155 mm. A Avibras oferece a convergência entre o Astros 2020, o CAESAR, mísseis e foguetes de variadas capacidades, e o blindado 4X4 Tupi (presente na concorrência VBLM-LR). A Renault, fabricante da versão original do Tupi, o Sherpa, também fornece o caminhão 6x6 usado na versão francesa do obuseiro.
ATMOS, a proposta da Elbit
Usando o comprovado chassi 6x6 TATRA Export T816-7 e arma de 155 mm, o Autonomous Truck Mounted Howitzer System, ou ATMOS, é um sistema reconhecido no mercado pelo selo “provado em combate” com as Forças Armadas de Israel. Uma tripulação de apenas seis homens opera uma arma de carregamento automático com alcance de até 41 km, integrada a uma robusta e versátil plataforma de baixo custo de mantenimento e grande mobilidade. Opcionalmente, o ATMOS pode ser montado em caminhões 6x6 na classe de 10 toneladas existentes no mercado brasileiro, como por exemplo, o MAN Constellation 31320, um modelo adotado pelo próprio Exército Brasileiro para outras tarefas. A Elbit, trabalhando em conjunto com a sua subsidiária brasileira ARES Aeroespacial, especializada na fabricação, montagem, manutenção e assistência técnica para estações de armas e artilharia de sistemas navais e terrestres, ofereceu uma proposta onde os sistemas ATMOS poderão ser montados utilizando-se instalações de logística e pessoal técnico do Exército, dessa forma garantindo também a qualificação de quadros necessária para manter esse material ao longo da sua vida útil. O tubo de 52 calibres está homologado para uso com qualquer munição padrão OTAN de 155 mm. A Elbit acena com a progressiva nacionalização desse material, e a suíte eletrônica e de comunicações desses obuseiros autopropulsados, segundo fontes da empresa, é plenamente compatível com os novos obuseiros M109-A5 recentemente adquiridos e atualmente sendo modernizados pela BAE Systems nos Estados Unidos.
Projeto Estratégico Guarani 8x8 Obuseiro
Recentemente, rumores divulgados na imprensa, não confirmados, sugerem um possível estudo de viabilidade e definição de características visando o desenvolvimento e compra de um sistema de artilharia autopropulsado como parte do Projeto Estratégico (PEE) Guarani. O Exército precisaria ainda desenvolver o conceito de emprego, requerimentos operacionais básicos e requisitos técnicos, já que nunca contou com esse tipo de capacidade. O sistema estaria destinado a fornecer apoio de fogo de longo alcance para infantaria mecanizada. As opções incluem a plataforma 6×6 já existente, fabricada pela Iveco Veículos de Defesa, e adaptada com arma de 105 mm, ou uma nova versão 8×8 usando canhão de 155 mm. Considerando que a versão inicial 8x8 do Projeto Estratégico Guarani, denominada VBR-MR, não teve até os dias de hoje sua configuração final definida por falta de escolha da torre e arma a serem usadas, é de se estranhar o surgimento de rumores sobre uma nova versão, especialmente diante do cenário de cortes orçamentários e contenção de investimentos em Projetos Estratégicos das Três Forças.
Imagens: Roberto Caiafa