A Base Industrial de Defesa da Turquia foi um dos destaques da LAAD 2025, seja pelo tamanho e variedade de estandes, produtos, serviços e tecnologias oferecidos, como pela grande quantidade de negócios realizados ou em andamento, não só com o Brasil, o maior mercado do continente, como com outros importantes países sul americanos que estão em um viés de compras para renovar equipamentos militares capitais como aeronaves de combate, navios de guerra e veículos blindados, dentre outras inúmeras demandas.
Aeronaves (AR)
A primeira cerimônia da feira, antes mesmo de sua abertura oficial, reuniu autoridades do governo turco e brasileiro, além de duas grandes empresas nacionais, pelo Brasil a Embraer e pela Turquia, a TAI ou Turkish Aerospace Industries.
No acordo entre ambas, figuram investimentos na linha de jatos comerciais E2 E-Jet por parte da indústria aeroespacial turca, que deseja integrar a cadeia global de fornecedores dessa linha de jatos comerciais regionais e assim expandir suas capacidades industriais.
No setor de Defesa, esse acordo pode evoluir para uma encomenda turca do jato de transporte militar bimotor KC-390 Millennium da Embraer, com a possibilidade de produção local na Turquia, enquanto o Brasil teria interesse na muito bem sucedida linha de drones produzidos localmente pela Baykar, que inclui um UCAV stealth a jato, o Bayraktar Kizilelma, um drone de ataque bimotor de grande alcance, o Bayraktar Akinci, e o drone MALE Bayraktar TB2, um UCAV de grande sucesso quando empregado em operações militares complexas voando em cenários tão díspares como a Síria e a Ucrânia.
Existe mesmo a possibilidade futura de o Brasil tornar-se parceiro dos programas para um caça de 5ª geração em desenvolvimento na Turquia, o KAAN (TAI TF-X), que realizou seu voo inaugural em fevereiro de 2024, e do jato de treinamento HURJET, que já tem a participação da brasileira Akaer no seu desenvolvimento e projeto, e foi selecionado recentemente pela Espanha para reequipar o seu Exército do Ar.
NOTA: Essa parceria com a Turquia, teoricamente, não afetaria o Programa Gripen BR, que está produzindo e entregando ao Brasil 36 caças Gripen E/F, com negociações em curso atualmente para extender o número de aeronaves a serem produzidas.
Blindados e Metralhadoras (Terra)
Esse foi um setor onde as empresas turcas vieram com força, especialmente no caso do mercado brasileiro, onde o Exército busca adquirir, com produção local, blindados de combate para a infantaria e um novo carro de combate, assumidamente mediano (limite de 50 toneladas).
Ambos devem usar a mesma plataforma automotiva (chassis e powertrain), dentro de um conceito de família de versões, e no caso do MMBT ou Medium Main Batlle Tank, terão preferência na licitação propostas que prevejam o emprego da torre Leonardo HITFACT MKII, a mesma utilizada pelo Centauro II (cujo contrato de aquisição para 96 unidades ainda não foi assinado, diga-se).
O Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil também precisa renovar sua frota blindada de combate, porém o debate conceitual sobre o uso de esteiras ou rodas, que ocorre atualmente, será o divisor de águas na escolha de um novo caça tanques, já que os cansados SK-105A2S Kurrassier estão bastante desgastados e com baixa disponibilidade operacional.
O primeiro cliente no continente sul americano a contratar uma empresa turca para modernizar seus blindados Leopard 2A4 foi o Chile, o que demandou a abertura de um escritório da companhia Aselsan na capital, Santiago, encarregado de gerenciar esse programa.
Sendo uma das maiores corporações de Defesa da Indústria turca, a Aselsan chega ao mercado latino americano em 2025 oferecendo munições guiadas ar-terra e solo-solo, sistemas de combate de emprego naval, sensores avançados IR/Laser/Termal, produtos e tecnologias para segurança pública, e uma estratégia de cooperação com novos parceiros regionais que inclui transferência tecnológica e produção local.
A modernização de plataformas terrestres, aéreas e navais é outro mercado onde a Aselsan enxerga boas possibilidades de negócios com algumas nações sul americanas.
O show proporcionado pela OTOKAR com a exibição da proposta MMBT do TULPAR 120mm e pela FNSS com o KAPLAN 105mm colocaram a indústria de blindados turca em evidência no mapa da América Latina, tradicional consumidora de produtos europeus ou norte-americanos usados e tecnologicamente defasados, na maior parte.
Outro destaque no setor terrestre foi o primeiro grande contrato de uma empresa turca de Defesa no Brasil.
O Exército Brasileiro fechou a compra de 200 metralhadoras pesadas M2HB Quick Change Barrel (QCB) da Samsun Yurt Savunma Sanayi (SYS), também conhecida como Canik Arms.
Estas metralhadoras serão usadas para equipar estações de armas remotas e manuais em veículos blindados de rodas do Exército Brasileiro, como os Guarani 6x6 e os Guaicurus 4x4.
O contrato, avaliado em cerca de 3,1 milhões de dólares, foi fechado através da Comissão do Exército Brasileiro em Washington (CEBW).
Mísseis e Patrulhas (Mar)
A parceria entre a brasileira SIATT e a empresa turca Kale Jet Engines para o fornecimento de motores micro turbojato KTJ 3200 para os primeiros protótipos do MANSUP-ER (200 km+ de alcance), mísseis que serão testados a partir do primeiro trimestre de 2026, representou um enorme passo para a Marinha do Brasil, que poderá contar com dois tipos de mísseis antisuperfície para armar suas escoltas classe Niterói e classe Tamandaré, o MANSUP padrão, com 70 km de alcance, e a versão ER com 200km+.
O mercado naval militar brasileiro, no curto prazo, deverá colocar encomendas para 11 novos navios de patrulha oceânicos de 500 toneladas, que deverão ser construídos no Brasil, uma oportunidade para a Aselsan, que possui um portifólio naval abrangente para equipar/armar esses patrulhas, especialmente os três exemplares da versão de Guerra de Minas/Contramedidas de Minagem, com o primeiro casco previsto para ser entregue a Esquadra Brasileira em 2031.