O 1º Esquadrão de Aviões de Interceptação e Ataque (VF-1) da Marinha do Brasil participou do Exercício Multinacional CRUZEX, organizado pela Força Aérea Brasileira, que promoveu treinamentos conjuntos em cenários de conflito e a troca de experiências com Forças Armadas brasileiras e estrangeiras.
Esse exercício foi encerrado oficialmente no último dia 15 de novembro.
Durante as duas semanas de intenso treinamento, militares de 16 países, incluindo aí os pilotos da Aviação Naval, aprimoraram táticas e procedimentos, fortalecendo a interoperabilidade em cenários realistas de combate.
A questão principal com relação ao A-4/AF-1 é encontrar um cenário realista, dentro da guerra aérea atual, onde o jato modernizado possa ser encaixado. Missões de apoio aéreo aproximado e ataque ao solo em profundidade foram a resposta, durante a CRUZEX 2024.
O AF-1 Falcão modernizado emprega o excelente radar israelense ELTA Systems 2032. Firma: Roberto Caiafa
O A-4 é uma aeronave de projeto antigo, subsônica e sem pós-combustão, apresentando uma seção transversal "apertada", pois foi criado como um asa delta com cauda para operar embarcado nos estreitos conveses dos porta-aviões da Marinha dos Estados Unidos da América (US Navy) sem ocupar muito espaço.
Seu armamento orgânico, dois canhões de 20mm, são versões evoluídas a partir de canhões desenvolvidos pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial para seus caças pesados.
A asa delta com cauda convencional até permite ao pequeno caça transportar um payload expressivo de armamento, mas é aí que a idade do avião se faz sentir.
Os 23 caças comprados do Kuweit estavam entre os mais recentes e menos voados disponíveis, tendo sido fabricados no final da década de 1970.
Os únicos armamentos que estes jatos podem efetivamente lançar são bombas da família MK (MK81, MK82, MK83, MK84) e variantes, foguetes de 70mm ar-superfície disparados de pods aerodinâmicos, foguetes pesados do tipo ZUNI e foguetes 2.75 FFAR.
O N-1021 biplace saindo para mais uma missão durante a Cruzex 2024. Firma: Roberto Caiafa
Para combate aéreo aproximado, o avião possui a integração necessária para disparar mísseis de curto alcance guiados por calor AIM-9L/M Sidewinder de geração anterior.
Essa arma não existe mais nos arsenais da Aviação Naval.
De fato, os poucos caças A-4 modernizados ainda disponíveis apresentam como grande diferencial um excelente radar embarcado, integrado na modernização pela EMBRAER, do tipo ELTA Systems 2032.
O Elta 2032 é um avançado radar multimodo de controle de tiro, orientado para missões ar-ar e ar-superfície.
É de desenho modular, com software e interfaces para facilitar a instalação em aeronaves de combate já existentes, segundo os requisitos do operador.
O radar foi desenvolvido levando-se em conta a experiência de combate dos pilotos da Força Aérea de Israel.
O equipamento aumenta sensivelmente a capacidade de um caça, principalmente na arena ar-ar, com grande alcance (80 milhas) e capacidade de rastreamento (tracking).
Em missões ar-solo, o 2032 provê imagens de alta resolução SAR e detecção/rastreamento nos modos RBM, DBS e SAR.
No modo ar-mar, o alcance chega a 160 milhas, e inclui a capacidade de classificação de alvos na superfície.
Apesar de operar esse excelente radar, os A-4 brasileiros não receberam a integração de nenhum armamento moderno como mísseis anti-superfície, bombas guiadas inteligentes, mísseis anti-radiação ou mísseis ar-ar para auto-proteção.
Basicamente, o armamento brasileiro é o mesmo empregado pelos argentinos em seus A-4 durante o Conflito das Falklands/Malvinas.
Se a 42 anos atrás era praticamente suicído atacar fragatas e navios de desembarque com bombas burras, enfrentando os mísseis superfície-ar e a artilharia antiaérea dos navios britânicos, isso certamente piorou muito para as aeronaves atacantes em quatro décadas.
Resumindo, o A-4 brasileiro tem uma excelente visão de longo alcance e total compreensão dos fatos a sua volta, mas não pode atirar a distância que seus sensores enxergam, tampouco pode efetuar missões de defesa aérea, já que não estão disponíveis mísseis ar-ar, mesmo que de curto alcance, e os dois canhões de 20mm, quando instalados, garantem mais a autodefesa da aeronave que propriamente seriam disparados em uma interceptação, mesmo por que esse trabalho pressupõe velocidade supersônica, algo que o avião não pode alcançar.
Os dois A-4 foram empregados em missões de ataque ao solo junto com os caças A-1 AMX da Força Aérea. Firma: Roberto Caiafa
Como uma aeronave pastora, disseminando informação captada pelo radar de bordo para a Força Naval, ou apoiando os Fuzileiros Navais em uma cabeça de praia, o AF-1 modernizado ainda tem valor militar, além de manter uma massa crítica de pilotos navais de asas fixas qualificados e treinados no Esquadrão VF-1 em tempos de paz.
Porém, é inegável que o fim da sua vida útil se aproxima velozmente, e a falta de suprimentos já é uma realidade no dia a dia das aeronaves brasileiras.
A Marinha do Brasil e a sua Aviação Naval precisam urgentemente de um novo jato de combate de asas fixas, mais moderno, capaz de expandir o leque de missões operacionais e que tenha real valor dissuassório e no combate.
A seção transversal apertada do A-4 fica explícita nessa imagem feita durante a Cruzex 2024. Firma: Roberto Caiafa