O ano novo começou com o Governo Brasileiro enfrentando uma grave crise fiscal e uma alta histórica da cotação do dólar, com graves reflexos nos orçamentos e propostas de investimentos das três forças armadas para o ano de 2025.
Em outra frente, a política, está sendo preparada pelo Governo Federal uma reforma ministerial cuja primeira baixa é a saída do ministro da Defesa, Múcio Monteiro, por pedido do próprio titular da pasta, alegando questões pessoais.
O ministro Múcio Monteiro deseja encerrar suas responsabilidadees na Defesa do Brasil. Firma: Agência Brasil
Encontrar um bom substituto será um enorme desafio para o Governo Brasileiro, pois quem assumir em seu lugar vai ter que lidar com uma miríade de problemas bastante complexos.
O problema Avibras
Quando se fala da Base Industrial de Defesa e Segurança brasileira na atualidade, existe uma estranha relação paralela entre sucesso e fracasso levada aos extremos.
Enquanto a Avibras Industria Aeroespacial S/A, uma das mais importantes empresas do setor na história do País ensaia a sua inevitável falência, apesar do anúncio de mais um "investidor interessado" em adquiri-la na virada de 2024 para 2025, a "novata" Siatt vive seu melhor momento construindo uma nova sede e uma nova fábrica que será responsável pela produção do Mansup, míssil antinavio nacional, e do MAX 1.2 AC, míssil anticarro destinado ao Exército Brasileiro.
2025 podera ser o ano da falência da Avibras. Firma: Avibras
Tudo isso graças aos 3 bilhões de reais investidos no Brasil pelo EDGE Group. É revelador para qualquer observador que, mais uma vez, um novo ciclo de investimentos em empresas do setor, no Brasil, aconteça com recursos estrangeiros.
Foi assim com a Avibras em seu surgimento, criada com o dinheiro do petróleo iraquiano de Saddam Hussein, e agora a história se repete, porém com o Governo dos Emirados Árabes Unidos no papel de investidor. E que investidor.
Prova disso é que outra empresa adquirida pelo Edge Group, a Condor Não Letais, projeta para 2025 grandes negócios, contando com o acesso dos Emirados em mercados antes inacessíveis a empresa brasileira, uma das maiores do mundo no seu ramo de atividade, munições e produtos não letais para emprego por forças de segurança, públicas ou privadas. Uma nova fábrica, a ser construída no Estado de São Paulo, vai produzir sensores, cameras corporais e novas tecnologias para segurança.
O drone Condor DROP. Firma: Roberto Caiafa
Outro setor que está migrando suas demandas para novas empresas é o aeroespacial, com a Força Aérea Brasileira e a Agência Espacial Brasileira, importantes "clientes" da Avibras, repassando contratos para novas companhias em fase de expansão como a Mac Jee e a Akaer, respectivamente, o programa para um vetor hipersônico de pesquisas (o X-14) e outro para o desenvolvimento de um veículo lançador de pequeno porte (VLPP). Isso sem falar do motor S50, proposto para equipar um novo foguete lançador nacional, o VLM-1, e que está a cargo da Avibras desde 2016 acumulando atrasos e mais atrasos em sua conclusão.
Na mesma linha, a Marinha do Brasil fez o teste conceitual de uma bateria para defesa do litoral armada com mísseis Mansup "emprestando" uma lançadora Astros do Corpo de Fuzileiros Navais para que a Siatt realizasse a integração do míssil sem qualquer participação da Avibras, algo de significado óbvio.
Quanto ao Exército Brasileiro, o maior "cliente" da Avibras no mercado doméstico, a situação não é diferente.
O AV-MTC, segundo fontes ligadas ao programa, está pronto. Falta a industrialização mediante encomendas. Firma: Roberto Caiafa
O míssil de cruzeiro de 300 km de alcance, denominado AV-MTC, está pronto e com seu desenvolvimento concluído, segundo apurou Infodefensa no início de janeiro com fontes ligadas ao programa, faltando agora a industrialização do sistema para produção em série.
Frente ao já exposto neste artigo, e considerando que o Exército Brasileiro é o detentor do IP (intellectual property) sobre o AV-MTC, não será nenhuma surpresa para o mercado, caso a tendência de falência da Avibras se concretize, que o Alto Comando da Força Terrestre entregue a industrialização do míssil de cruzeiro para outra empresa brasileira, coloque encomendas e introduza oficialmente em serviço o sistema, previsto inicialmente para estar pronto e operacional em 2020.
Marinha do Brasil
O ano de 2025 começa com a primeira participação de um submarino classe Riachuelo em um exercício operacional "Aspirantex", mostrando que o Prosub está consolidado, faltando entregar o 4º submarino do contrato original, que poderá receber um extensão para mais duas unidades a partir de 2027.
A fragata F200 Tamandaré. Firma: TKMS
Com a primeira fragata classe Tamandaré em ritmo final de integração de sistemas e armamentos em Itajaí, e com mais duas em construção, em diferentes estágios, 2025 deverá assistir aos primeiros testes de porto e de mar (HAT/SAT) da F-200, prevista para ser entregue ao setor operativo da Esquadra em dezembro próximo.
Para cumprir esse cronograma, foram instalados em Itajaí os escritórios do Grupo de Recebimento das Fragatas Classe Tamandaré, com doze módulos ocupando uma área útil total de 325 m². Nos escritórios, vão trabalhar, em 2025, os 112 militares da futura tripulação da F200, e assim sucessivamente para cada fragata em construção, quando da sua entrega.
O novo navio de apoio antartico, o futuro Navio Polar (NPo) “Almirante Saldanha” está em fase final de construção e deverá ser entregue até o final de 2025.
Navio Polar (NPo) “Almirante Saldanha”. Firma: Emgepron
Força Aérea
O ano que começa traz desafios importantes para FAB, dentre eles, receber o primeiro caça Gripen E fabricado no Brasil, que encontra-se em fase final de montagem nas instalações da Embraer em Gavião Peixoto, no interior do Estado de São Paulo.
Mais uma aeronave KC-390 Millennium deverá ser entregue, e o programa de modernização dos EMB-314 Super Tucano deverá ser oficalmente iniciado com o recebimento das primeiras células que serão atualizadas com as novas capacidades selecionadas pela FAB.
O LAD, previsto na modernização e novas versões do Super Tucano, é fabricado no Brasil pela AEL Sistemas. Firma: Roberto Caiafa
Espera-se para 2025 uma definição quanto ao programa de modernização da frota de helicópteros H-60L Blackhawk da Força Aérea, o que deverá incluir a compra de mais unidades do tipo, repetindo o modelo de aquisição utilizado pelo EB, via FMS.
Mais uma vez, é necessário questionar essas compras enquanto existe um fabricante de helicópteros instalado no País plenamente capaz de atender aos requerimentos colocados pela Força Aérea.
A entrada em serviço dos primeiros módulos funcionais do Link BR2 também deve ocorrer em 2025, com essa capacidade sendo integrada aos caças Gripen E e F-5EM/FM, e também as aeronaves de alerta aéreo antecipado, comando e controle Echo-99 do Esquadrão Guardião.
Helicóptero H-60L da Força Aérea Brasileira. Firma: Roberto Caiafa
Exército Brasileiro
Para 2025, é essencial a rápida resolução do impasse na aquisição do obuseiro sobre rodas de 155mm Atmos, um problema que não foi criado pelo Exército mas sim pelo Governo Brasileiro atual, que vive as turras ideologicamente com o governo israelense.
Deverá acontecer nos próximos meses a definição do programa de produção de obuseiros auto-rebocados de 105mm no país, sob licença. Claramente, o preferido da Força é o Light Gun da BAE Systems, mas outros fabricantes também devem apresentar suas propostas.
Obuseiros Light Gun em ação durante exercício combinado Marinha e Exército em Formosa. Firma: Roberto Caiafa
2025 também deverá marcar o início dos trabalhos para a abertura de uma licitação internacional visando a aquisição do primeiro IFV legítimo a ser operado pelo Brasil, e estão na mesa propostas da Otokar, Aselsan, BAE Systems, Rheinmetall, KNDS, Hanwha Defense, Norinco, etc.
Espera-se uma definição quanto ao futuro dos carros de combate Leopard 1A5 BR, cuja obsolescência e falta de peças é a cada dia mais crítica, deixando um número cada vez menor de blindados em condições de operar e combater.
O Programa Estratégico do Exército Forças Blindadas prevê a urgente substituição dos Leopard 1A5 BR e dos veículos M-113, mas até meados de janeiro de 2025, a Consulta Pública: Nº 02/2024 - EME, que busca informações no mercado sobre Viaturas Blindadas de Combate de Fuzileiros e Viaturas Blindadas de Combate Carro de Combate, ainda é uma incógnita, tendo sido prorrogada até 20 de dezembro último a data para que as empresas interessadas entregassem as suas propostas.
Por fim, é imperativo que o contrato de aquisição do Centauro 2 seja assinado o quanto antes, em 2025, de modo a garantir uma fluidez entre o encerramento do processo de avaliação dos dois exemplares que já estão no Brasil, e o início efetivo do programa de produção e entregas desses caça tanques sobre rodas armados com canhão de 120mm.
Centauro 2 nas cores brasileiras. Firma: CIO
2025 também será fundamental na execução dos arranjos necessários para que a Imbel esteja qualificada, o mais rapidamente possível, para iniciar a produção de munição HEAT/HESH de treinamento, no calibre 120mm, para atender a demanda aberta pelo Centauro 2.
Futuramente, a empresa brasileira deverá ser qualificada para produzir munições de combate do tipo flecha ou Armour-Piercing Fin-Stabilized Discarding Sabot (Apfsds).
O blindado sobre rodas 6x6 Guarani deverá acrescentar a sua "família" duas novas versões, posto de comando e ambulância, e durante 2025 serão prontificados os protótipos, com os testes funcionais sendo realizados no primeiro semestre de 2026.
O EB pretende adquirir 74 exemplares do modelo Posto de Comando, e 80 unidades da versão Ambulância.
2025 deverá ser o ano da Siatt no Brasil. Firma: Siatt/EDGE Group