A Força Aérea Brasileira planejou a Cruzex 2024 como um grande teste das capacidades do Gripen E, o exercício acontecendo em um momento onde sobravam críticos ao caça sueco e inúmeras ofertas de "alternativas" de outros fabricantes.
Ao final da Cruzex 2024, ficou claro que a Força Aérea Brasileira tem o avião que almejava, com performances ar-ar sólidas e capacidade de se impor tecnologicamente, algo que anteriormente acontecia no sentido inverso, com os caçadores brasileiros reinventando-se frente as limitações dos caças F-5E/F e A-1 A/B modernizados que pilotavam.
O F.39E Gripen operou equipado com tanque de combustível suplementar na linha central durante toda a Cruzex 2024. Firma: Roberto Caiafa
As performances dos caças Gripen enviados a Natal apenas confirmam o que se esperava, o fabricante sueco entrega aquilo que vende apoiado por um amplo pacote de transferência tecnológica e capacitação industrial através do Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen (GDDN), da SAAB SAM em São Bernardo do Campo e da linha de montagem final compartilhando instalações da EMBRAER em Gavião Peixoto.
O anúncio oficial do acordo de extensão do contrato do Gripen E/F para a Força Aérea Brasileira, ao mesmo tempo que a Suécia assumiu a escolha do Embraer KC-390 Millennium para reequipar sua aviação de transporte militar, são provas inequívocas da maturidade do Programa Gripen Brasileiro e da qualidade da emgenharia aeroespacial da Embraer, que entregou o avião de transporte militar que a FAB especificou e o tornou um sucesso de mercado.
Os KC-390 do Brasil e Portugal operaram durante toda a CRUZEX 2024. A Suécia anunciou durante o exercício a escolha da aeronave para substituir seus cansados C-130 Hércules. Firma: Roberto Caiafa
Jogos de Guerra no Ar
Nos céus do Rio Grande do Norte, a partir da segunda semanado Exercício Cruzex 2024. as missões a serem cumpridas pelos caças passaram para maiores níveis de dificuldade, tanto para os times Blue (defensores) quanto para os times RED (agressores).
Os pilotos norte-americanos, voando um avião bem armado e potente, o F-15 Eagle, foram superados por um caça muito menor em tamanho, o Gripen E, mas dotado de tecnologias atuais, com diversos inputs de 5ª geração.
Da mesma forma, os F-16 C/D voados pelos experientes chilenos também obtiveram suas vitórias e suas derrotas.
F.39E Gripen voa em formação com um F-15C Eagle. O Gripen E está armado com mísseis Meteor e Iris-T, e o F15C com mísseis AMRRAM e Sidewinder AIM-9X. Firma: Roberto Caiafa
A vantagem tecnológica que o radar ES-05 conferiu ao pequeno caça sueco, aliado as performances do míssil AMRAAM simulado usado em comum por todos os caças, tornaram o Gripen E um caça extremamente letal no combate BVR durante a CRUZEX 2024.
O piloto Gripen operando dentro dos parâmetros ideais dos seus sistemas radar x míssil podia decidir sempre se iniciava ou não o engajamento.
Com o jato de alerta aéreo antecipado, comando & controle Embraer Echo-99 Guardião operando no circuito "a favor" dos Gripens, a superioridade da informação compartilhada (via datalink) obrigava os juízes do exercício a delimitarem as performances dos caças brasileiros, permitindo que todos os envolvidos treinassem todas as etapas das missões.
Recentemente modernizados no Brasil, os Echo-99 permitem aos Gripen tirar o máximo proveito do seu próprio radar de bordo. Firma: Roberto Caiafa
F-15C Eagle, o estreante visitante
"Foi uma emoção e tanto voar com os mais novos caças da Força Aérea Brasileira, o SAAB F-39E Gripen construído pela Suécia. O Brasil começou a receber esses aviões há menos de dois anos e a Cruzex 2024 é o primeiro grande exercício do qual participou. Nós (USAF) gostamos de voar juntos todos os dias e aprender uns com os outros em alguns voos desafiadores, mas divertidos, nas últimas duas semanas."
Quem deu esse depoimento após conhecer em detalhes um dos caças Gripen E da Força Aérea Brasileira foi o piloto Mike “Hansel” Scott, um dos pilotos norte-americanos destacados para participar da CRUZEX 2024 voando o poderoso F-15C Eagle, avião que já foi pôster dependurado na parede da maioria dos leitores com mais de 40 anos.
Mike “Hansel” Scott dentro do cockpit de um Gripen E durante a Cruzex 2024 (Instagram pessoal)
Estaria o norte-americano sendo "educado" ao elogiar o Gripen E de modo tão diplomático?
Absolutamente.
Trata-se de um profissional reconhecendo as qualidades de ferramentas usadas em seu ofício, que é enxergar o alvo primeiro, atirar antes que o inimigo possa fazê-lo e destruir a ameaça sem arriscar seu avião a um contra ataque.
Exatamente o poder incontestável que o F-15 Eagle possuía quando foi lançado na década de 1970 do século passado.
O produto da então McDonell Douglas era um caça pesado capaz de levar pelo menos oito mísseis, equipado com motores super potentes, radar de longo alcance e grande potência de emissão de sinais, um canhão de 20mm e manobrabilidade excepcional para combate aéreo aproximado ou Dog Fight (briga de cães).
O F-15 mudou os parâmetros de performances dos caças pesados a partir dos anos 70. Arte: McDonell Douglas
Com a entrada em serviço do míssil BVR AMRAAM, no final dos anos de 1980, o F-15 Eagle se tornaria ainda mais letal, algo comprovado durante a 1ª Guerra do Golfo, em 1991, e posteriormente em diversos conflitos que a USAF se envolveu ao longo dos últimos 30 anos.
Gripen E e o radar AESA RAVEN ES-05
O Leonardo ES-05 Raven é um radar de varredura eletrônica ativa (AESA), formado por milhares de pequenos módulos transmissores/receptores em estado sólido, conhecidos como TRMs (Transmit/Receive Modules).
Essa tecnologia permite que o radar do tipo AESA altere rapidamente sua direção de varredura, sem necessidade de movimento mecânico completo, aumentando sua agilidade e precisão.
Para adicionar mais capacidade de detecção em um ângulo mais aberto, incluindo visão lateral até quase o batente, o Leonardo RAVEN ES-05 usa uma tecnologia que permite sua base girar e assim aliar a varredura eletrônica ativa com o movimento mecânico, obtendo uma vantagem importantíssima em combate.
A isso chamamos de swashplate.
Esquema mostrando o funcionamento da tecnologia swashplate do radar RAVEN ES-05. Firma: Leonardo
Embora o radar seja um AESA, ele incorpora um método completamente diferente para manter a antena apontado para o alvo.
O ES-05 literalmente gira a sua placa base dentro do nariz da aeronave para ficar sempre de frente para a ameaça.
Isso aumenta o campo de visão do gimball radar enormemente, permitindo ao Gripen E detectar um alvo frontalmente, na clássica interceptação por rota de colisão, lançar mísseis Meteor BVR e depois realizar o "crank" lateralmente, mesmo que esteja se afastando do alvo.
As performances dos F-16C/D chilenos mais uma vez confirmaram o excelente treinamento e domínio tático que os pilotos chilenos possuem na arena ar-ar. Firma: Roberto Caiafa
Isso permite ao Gripen E atualizar o MBDA Meteor que está no ar com dados precisos da localização do seu alvo durante praticamente todo o voo do míssil, o que aumenta enormemente o PK ou probability of kill.
E o avião brasileiro consegue fazer isso enquanto se afasta do alvo inimigo, perdendo altitude e manobrando (crank) para dissipar a energia do míssil inimigo que certamente foi lançado como resposta ao Meteor.
E assim que o binômio Gripen x Meteor vai para o combate aéreo atual.
Os seis exemplares do Gripen E despachados para a Cruzex 2024 apresentaram performance e disponibilidade consideradas excelente pela Força Aérea Brasileira. Firma: Roberto Caiafa