O 1º voo do segundo Embraer C-390 Millennium encomendado por Portugal foi realizado em Gavião Peixoto no último dia sete de junho de 2024, dois dias após a reportagem de Infodefensa visitar a linha de montagem dessa aeronave e constatar presencialmente o voo iminente do exemplar português, número de série 26902.
Ocupando três enormes hangares, um dos quais também recebe a linha de montagem/modernização dos EMB-314 Super Tucano, a linha de produção do KC-390 respira trabalho e impressiona pela sua alta tecnologia.
A terceira aeronave portuguesa aparece em primeiro plano ainda sem as asas. A sua frente, um avião da Hungria em fase final de montagem. Foto: EDS
No hangar de produção das asas, que são montadas em dois enormes e complexos gabaritos giratórios, dois robôs realizam 60% das furações, fazem a medição de precisão dessa furação e aplicam selante.
As duas metades de cada asa, depois de unidas formam um conjunto completo, com bordo de ataque, de fuga e caixa estrutural, além das superfícies de controle e seus atuadores.
Parte da estrutura de cada asa funciona como um grande tanque de combustível, que são testados sob pressão durante a fase de montagem.
O alinhamento das peças é checado a laser, garantindo 100% de qualidade na fabricação.
Enquanto as asas estão sendo fabricadas, no hangar ao lado ocorre a fabricação do “charuto” da fuselagem, incluindo as partes que são produzidas pelos parceiros fornecedores (Argentina, Portugal, República Tcheca) e enviados para Gavião Peixoto.
A sétima aeronave KC-390 da Força Aérea Brasileira, FAB 2859, em montagem final na fábrica de Gavião Peixoto. Firma: EDS
Divididos em parte dianteira, central (caixa estrutural de montagem das asas) e traseira, as seções são produzidas e depois unidas, em um processo que movimenta esses conjuntos pela linha de produção e mantém tudo alinhado e centrado com o uso de sistemas laser de alta precisão.
Na produção da fuselagem de cada C-390 são empregados outros oito robôs de alta tecnologia, que fazem furações, medições e aplicação de produto selante, dentre outras tarefas complexas.
Na medida que o trabalho avança o novo avião recebe o seu piso, seus sistemas de encaixe e manuseio de carga, a rampa hidráulica, os sistemas internos elétrico, hidráulico, quilômetros de cabos, tubos e condutos, os sponsons (carenagens) e assim mais um Millennium vai ganhando forma.
Quando a montagem principal da fuselagem é concluída, o charuto é deslocado para o terceiro hangar, onde ocorre a mágica da sua junção com o par de asas que estavam sendo fabricadas em paralelo, e foram unidas formando uma única peça.
O FAB 2854, segundo KC-390 entregue (2019), na linha de produção em Gavião Peixoto
Esse é um dos segredos mais bem guardados na fabricação do avião.
Feita a junção, o avião está apto para receber seus motores e pilones, os trens de pouso funcionais, os diversos sensores e antenas, a aviônica e outros equipamentos do cockpit/posto do loadmaster, o hardware e o software de seus sistemas eletrônicos.
É nesse momento que o Millennium será energizado pela primeira vez, começando assim uma bateria de testes em solo até a sua liberação para o primeiro voo funcional, que inaugura a campanha antes da entrega ao cliente.
Uma das primeiras fotografias publicadas da linha de montagem do KC-390. Firma: FAB
Capacidade de Produção
A operação da Embraer Defesa e Segurança para fabricar o C-390 Millennium em Gavião Peixoto está produzindo e entregando seis aviões por ano na atualidade, mas as instalações existentes suportam um ciclo de produção máximo de até 18 exemplares/ano.
A fabricante brasileira de aviões espera atingir a capacidade de entregar uma aeronave por mês no ano de 2030.
Durante o tour pelos hangares, foi possível verificar os diferentes estágios de fabricação dos C-390 Millennium para a Hungria, com o primeiro exemplar praticamente pronto e a montagem final da 2ª aeronave em curso.
O segundo e terceiro C-390 para Portugal foram vistos, com o 26902 voando dois dias depois da visita de Infodefensa pela primeira vez.
Também estão em fase final de montagem o 7º e o 8º aviões da encomenda de 19 unidades colocada pela Força Aérea Brasileira.
No teto do hangar de montagem final do C-390 Millennium, ao lado das bandeiras de todos os países citados, está afixada a bandeira da Coréia do Sul, cujo contrato foi recentemente assinado.
O Mercado quer o C-390 Millennium
No total, o Embraer C-390 Millennium já é uma realidade hoje para sete países.
Dois deles já operam o avião, Brasil e Portugal.
A Hungria deve receber o seu primeiro exemplar ainda em 2024.
Holanda, Áustria e República Tcheca devem receber seus primeiros aviões a partir de 2026.
Sem contar os aviões da Coréia do Sul, são 37 encomendas.
Um início auspicioso para uma aeronave com potencial de vender até 490 exemplares nos próximos 20 anos, especialmente nos mercados do Oriente Médio/Golfo Pérsico e Ásia/Pacífico, algo em torno de US$ 60 bilhões.
Com um preço base de US$ 115 milhões, o C-390 Millennium está posicionado na faixa mais lucrativa do mercado de aeronaves militares de transporte multifuncionais, entregando até 26 toneladas em locais de difícil acesso com velocidade de cruzeiro estimada em 470 KTs.
Segundo dados fornecidos pela Embraer, 90% das oportunidades de mercado têm esse perfil, em todo o mundo.