O contra-almirante Paulo Ricardo Finotto Colaço é natural de São Paulo, capital. Declarado Guarda-Marinha em 13 de dezembro de 1985, entre os cargos/comissões que este aviador naval atuou estão o grupo de fiscalização e recebimento de helicópteros Super Lynx na Inglaterra (1995 e 1996); comandante da corveta “Caboclo”; Gabinete do Comandante da Marinha; comandante do 1º Esquadrão de Helicópteros de Esclarecimento e Ataque (HA-1); Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; e comandante do Navio de Desembarque de Carros de Combate NDCC G29 “Garcia D’Ávila”.
Antes de assumir o atual posto, em setembro de 2016, foi o Subchefe de Orçamento e Plano Diretor do Estado-Maior da Armada.
O senhor tem uma trajetória ligada ao Esquadrão HA-1 e seus helicópteros, chegando inclusive ao comando da unidade. Como se encontra a modernização dos AH-11 Super Lynx, que equipam o esquadrão, e quais os seus principais pontos?
Os prazos contratuais estão sendo cumpridos para a modernização de oito exemplares, selecionados entre os que possuíam maior vida útil de célula (limite de 7.000 horas). Até o momento já enviamos três exemplares para o Reino Unido e o primeiro deles deverá estar pronto em outubro, sendo entregue a Marinha antes do final desse ano. Os cursos para pilotos e mecânicos já começaram e estão preparando as equipagens para operarem o "novo" helicóptero. A troca do antigo par de turbinas Gen 42 (descontinuadas no seu suporte) pelas T800 (ambos da Rolls Royce) justifica esse termo, a performance e disponibilidade do movo motor é bastante superior. Além disso, estamos melhorando a aviônica, MAGE, painel compatibilizado com NVG, upgrade de sensores, etc, transformando esses oito helicópteros na versão AH-11B Super Lynx.
Quanto aos caças AF-1 Falcão, o programa sofreu alguma mudança depois do acidente que resultou na perda de uma aeronave modernizada e avarias em outra?
Havia um pouco de atraso contratual, até pela dificuldade da empreitada,somente dois jatos modernizados haviam sido entregues. O acidente ocorrido em 2016 nos deixou com uma aeronave modernizada que está danificada (N-1001) mas deverá ser reparada brevemente pelas equipes da Embraer Defesa & Segurança e em São Pedro da Aldeia. O VF-1 vai receber três AF-1 Falcão em 2017, e o programa poderá ter uma quantidade menor de aviões (existe uma negociação em curso pela Marinha), ficando ao final seis monoplace e três biplaces, todos sendo entregues até o final de 2020. Apesar de não mexer no motor, o programa introduz um novo cockpit, radar digitalizado, sensores atualizados, sistema OBOGS de geração de oxigênio, e o avião continuará apto a disparar o armamento que já possui com novos parâmetros de precisão e letalidade. A Marinha também estuda integrar novas armas ao modelo, como mísseis ar-ar (o jato já utiliza o SideWinder AIM-9L dos estoques entregues com o avião, e deverá ser capaz de disparar mísseis ar-superfície - nota do autor).
A questão do novo helicóptero de instrução, já houve um encaminhamento ou decisão?
A Marinha está fazendo estudos sobre o programa IHP, ou programa do helicóptero de instrução, e aguarda também a conclusão de estudos do Ministério da Defesa sobre a criação de uma Escola de Formação Conjunta de Asas Rotativas para as Três Forças. O programa IHP prevê a substituição das atuais aeronaves de instrução Bell 206B Jet Ranger III (designadas IH-6B na MB), utilizadas a partir de 1986 pelo 1º Esquadrão de Helicópteros de Instrução (HI-1), na instrução básica de voo dos Oficiais-Alunos durante a parte de Pilotagem do Curso de Aperfeiçoamento de Aviação para Oficiais (CAAVO). Independente das decisões sobre a formação futura de uma escola e qual será o modelo de helicóptero escolhido, a Diretoria de Aeronáutica da Marinha continua se mexendo no sentido de estabelecer seus requesitos, haja visto que os Bell Jet Ranger III encontram-se no final de sua vida útil, e a falta de algumas peças e componentes tem deixado boa parte deles no solo, indicando que a hora de aposentá-los definitivamente está muito próxima.
Os Helibras H-225M / UH-15 estão entrando em serviço paulatinamente. O que o senhor pode falar sobre o desempenho geral desse aparelho com a Marinha?
Estamos muito satisfeitos com o helicóptero, não só pelas suas capacidades e versatilidade, é um tipo no estado da arte, mas também pela efetividade do Contrato de Suporte Logístico (CLS) que alinhamos com a Helibras. Nossas aeronaves tem apresentado excelente disponibilidade, e algumas delas ainda estão cobertas pela garantia do fabricante. A versão standard é a que temos em maior número, e a versão SAR e C-SAR também está sendo entregue. A aeronave traço Bravo, destinada ao ataque de superfície, terá cinco exemplares, aumentando exponencialmente a capacidade dissuasória de um Grupo Tarefa onde esses helicópteros operem. Todos podem usar óculos de versão noturna, e no caso do Bravo, devemos entendê-lo como um escalonamento de capacidades que começa com os AH-11B Super Lynx lançando mísseis Sea Skua, incluindo ataques noturnos a partir dos escoltas, passa pelos SH-16 Sea Hawk e seus mísseis Penguim e chega ao UH-15B armado com o Exocet MM-40. Com a capacidade de aviação de um navio como o G-40 Bahia, devemos ampliar o envelope de vento, preparando o caminho para operações noturnas a bordo com segurança (na Aspirantex, o Bahia operou pela primeira vez na Marinha do Brasil com quatro helicópteros de médio/grande porte destacados a bordo).
E quanto ao SH-16 Sea Hawk? O que ele traz de novo para a Força Aeronaval?
O SH-16 é reconhecido pelas suas habilidades na guerra antissubmarina, e estamos bastante impressionados, positivamente, com suas capacidades de guerra de superfície e guerra eletrônica, ainda estamos descobrindo potencialidades de emprego para o Sea Hawk que não tínhamos antes de sua chegada. Todos os seis helicópteros estão entregues, alguns ainda gozando de garantia do fabricante. A forma segura e automática como o SH-16 faz a transição do voo reto e nivelado para o voo pairado sobre o mar (hoverar), de dia ou a noite, merece destaque, pois em operações SAR no mar isso faz toda a diferença entre viver ou morrer. Na Missilex 2016, o tipo disparou o míssil Penguim com 100% de sucesso, comprovando sua habilidade de incapacitar um navio de combate. Nos falta ainda receber o simulador do modelo, um contrato em separado e que deverá estar concluído até o início de 2019.
Com tantos programas e entregas em andamento, a Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia precisou ser submetida a mudanças em termos de instalações e apoio de logística?
A infraestrutura da Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia já foi pensada para receber melhoramentos em paralelo com os programas de modernização. Os contratos assinados estão sendo cumpridos, e mesmo com a contigenciação de recursos em 2015 e 2016 e as necessárias readequações, deveremos começar a construir um novo hangar para os UH-15 do Esquadrão HU-2, refazer pátios e recapear pistas e taxiways, dentre outras obras de expansão como reforma da torre de controle e rancho, e a modernização de equipamentos de comunicações. A Base também passou a contar com hospital e policlínica próprios, capaz de atender a todo o pessoal aeronavegante, e também está atendendo o pessoal inativo de toda a Região dos Lagos (RJ). A criação de novas Organizações Militares como o Centro de Intendência da Marinha em São Pedro da Aldeia comprovam o acerto desse crescimento, mesmo com tantos desafios a serem superados.
Imagens: Roberto Caiafa / Marinha do Brasil
Infodefensa entrevistou o ComForAer a bordo do NDCC Almirante Sabóia.