No dia 28 de outubro último, uma segunda feira, o portal da Revista VEJA, tradicional semanário brasileiro, informava que as longas e complexas negociações para a venda de parte da empresa estratégica de defesa Avibras ao Fundo Soberano da Arábia Saudita estariam próximas de um desfecho.
Segundo a Coluna Radar, os sauditas estariam planejando adquirir 80% da fabricante brasileira de armamentos, conhecida pela produção de veículos lançadores de foguetes e mísseis de cruzeiro, que entrou em recuperação judicial em março de 2022, enfrentando cerca de 395 milhões de reais em dívidas reconhecidas pela Justiça.
Apesar da sua frágil situação financeira, a Avibras domina de ponta a ponta ativos valiosos para as Forças Armadas brasileiras, em especial o Exército Brasileiro, como o sistema de lançamento múltiplo de foguetes Astros (veículos e munições) e o Míssil Tático de Cruzeiro AV-MTC 300 e seus veículos de apoio.
Essa nota criou uma grande rebuliço no mercado de Defesa brasileiro.
Em uma rápida consulta na internet, e segundo dados da consultoria Global SWF, somente em 2023, o fundo saudita teria investido 31,6 bilhões de dólares em diferentes ativos, consolidando-se como uma das plataformas de investimento mais atuantes do mundo.
Acontece que, no mesmo dia da divulgação dessa coluna, porém algumas horas mais tarde, a Avibras divulgou uma nota entre seus "colaboradores", assinada "diretoria", onde não só desmentia a Coluna Radar como informava que a empresa estaria concluindo uma negociação para a venda do controle acionário a um investidor brasileiro, e não a um estrangeiro.
Astros do Exército Saudita abrindo fogo no deserto. Firma: DoD SA
Segundo esse informe interno, um acordo entre as partes teria sido estabelecido no dia 25 de novembro, sexta-feira anterior a divulgação da Coluna Radar por Veja! Esse comunicado também deu origem a uma nota para a imprensa:
"A Avibras informa que avançou significativamente em seu processo de recuperação financeira com a assinatura, no dia 25/10/2024, de um acordo para aquisição do controle da companhia por investidor brasileiro, o qual dependerá do cumprimento de condicionantes para a sua conclusão. Nesta fase, serão conduzidas as diligências necessárias para concretizar e validar a aquisição, com o intuito de restabelecer as operações da companhia. A assinatura deste acordo representa um marco importante no processo de reestruturação da empresa. O fechamento efetivo da aquisição somente poderá ocorrer se cumpridas todas as condições estabelecidas no acordo. As partes estão trabalhando de forma colaborativa e diligente para concluir a transação. Mais informações sobre o processo serão divulgadas em momento oportuno. Assessoria de Imprensa 28/10/24"
Essa reviravolta nas informações sobre o real status quo da Avibras provocou um grande debate nacional, onde os adeptos da venda para um investidor brasileiro radicalizaram suas posições sobre o controle acionário da Avibras "cair" nas mãos de um investidor estrangeiro.
Para muitos analistas e especialistas nesse mercado, a venda da Avibras para um investidor estrangeiro representaria um retrocesso significativo e uma perda de tecnologia essencial para o país, e a sua estatização, já descartada, seria ainda mais preocupante.
O fato é que existem opções, o tema é complexo e a força de trabalho da empresa, que diminui bastante nos últimos dois anos, precisará ser recomposta após receber salários e outros benefícios atrasados.