O conglomerado estatal dos Emirados Árabes Unidos EDGE Group anunciou nesta sexta-feira, em São Paulo, a compra de 50% do capital da SIATT, empresa brasileira cujo acrônimo significa “Sistemas Integrados de Alto Teor Tecnológico”.
Trata-se da missile house brasileira.
O grupo árabe recentemente negociou uma parceria estratégica com a Marinha do Brasil e a SIATT para o desenvolvimento conjunto de um míssil antinavio de longo alcance, e alinhou um acordo de cooperação técnica mútua.
CEO do EDGE Group, Mansour Al Mulla, sendo recebido pela Marinha do Brasil no Rio de Janeiro com honras militares. Foto: Edge Group
Durante a semana corrente, o CEO do EDGE Group, Mansour Al Mulla, esteve no Brasil para firmar uma série de contratos, acompanhado de altos dirigentes do grupo, que tem sede em Abu Dhabi e foi fundado em 2019 a partir da consolidação de 25 companhias dedicadas principalmente ao setor de defesa.
Segundo Faisal Al Bannai, Presidente do Conselho de Administração, o grupo EDGE é uma holding de tecnologia estatal cuja estratégia “fazer acontecer” traz resultados importantes, não só reforçando a soberania dos Emirados Árabes Unidos como auxiliando de forma decisiva no processo de internacionalização de suas empresas e no aumento das exportações.”
O Fator SIATT
Na atualidade, a SIATT executa um contrato com a Marinha do Brasil para finalizar o desenvolvimento, já em adiantado estágio, e iniciar a fabricação localmente de um míssil antinavio com alcance divulgado de 70 km, denominado MANSUP.
O míssil MANSUP no momento do disparo. Foto: MB
Segundo o CFO do EDGE Group, o brasileiro Rodrigo Torres, “O que estamos fazendo é um investimento estratégico soberano tanto para o Brasil quanto para os Emirados Árabes Unidos.” Nota do autor: Basta olhar em um mapa onde os EAU estão localizados, e entende-se imediatamente por que mísseis antinavio ou anti-superfície são sinônimos de soberania numa região por onde trafegam superpetroleiros carregados com milhares de milhões de barris de óleo cru todos os dias.
Os planos de expansão do EDGE Group, nos quais o Brasil vem ocupando um espaço cada vez maior, atendem a interesses estratégicos dos Emirados Árabes, atualmente ranqueado como o 7º maior produtor de petróleo do mundo, com 3,6 milhões de barris por dia. Isso gera um potencial de investimentos poderoso.
O ADIA (Abu Dhabi Investment Authority), o fundo soberano dos Emirados, é o 4º maior do planeta, com US$ 853 bilhões em ativos.
Autoridades da Marinha e Dirigentes do Edge Group reunidos: acordo para desenvolver míssil antinavio de longo alcance. Foto: Edge Group
Perfil SIATT
Oficialmente, a brasileira SIATT foi fundada em 2015 no Parque Tecnológico de São José dos Campos, no entanto, sua história começou de fato em 1991, quando um grupo de engenheiros decidiu juntar esforços e assim nascia a Mectron.
Em 2008, após os malfadados projetos do MAA-1 e MAA-1B Piranha, mísseis ar-ar semelhantes ao americano AIM-9 Sidewinder, a empresa passou a integrar o projeto de desenvolvimento do A-Darter, um míssil ar-ar de 5ª geração desenvolvido conjuntamente pelo Brasil e a África do Sul.
Em meados de 2015, após o fracasso na industrialização do míssil ar-ar A-Darter, devido a falência da empresa Denel (parceira sul africana), os sócios fundadores deixaram a Mectron, que desapareceu, e fundaram a SIATT recomprando alguns ativos, como os programas MSS 1.2 AC (míssil anticarro com guiamento bean rider e alcance de 3 km, derivado do italiano MAF) e o projeto do míssil antinavio MANSUP*, atualmente na fase final de desenvolvimento.
No próximo passo previsto do programa MANSUP, deverá ocorrer a industrialização de um lote piloto desses mísseis e o início das entregas para a Marinha do Brasil.
O MSS 1.2 AC ou míssil anticarro com guiamento bean rider e alcance de 3 km. Foto: SIATT
O MSS 1.2 AC já é um produto maduro e está disponível para ser fabricado em quantidade, bastando apenas o investimento em uma linha de produção e logística de fornecedores para atender encomendas que podem vir inclusive das Forças Armadas dos EAU.
Acredita-se que o Edge Group venha a ter um importante papel na produção seriada desses sistemas de armamento desenvolvido pela SIATT, inserindo a empresa no mercado globalizado de forma competitiva.
*No míssil MANSUP, a SIATT trabalha em parceria com as brasileiras Omnisys – responsável pelo seeker/buscador de alvos, e Avibras Aeroespacial de Defesa – responsável pelo motor de propelente sólido.
Lançamento do míssil MANSUP, que deverá concorrer no mercado internacional de mísseis com versões menos capazes do europeu Exocet, fabricado pela MBDA. Foto: Marinha do Brasil