A Pandemia de Covid-19 tornou-se um evento em escala mundial ao longo de 2020, e no Brasil, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas, integrando uma rede de agências governamentais, apoiaram de forma decisiva a logística e operações de enfrentamento ao vírus em todo o território nacional por terra, mar e ar.
Ao mesmo tempo, operações militares de grande porte aconteceram em pontos chave do território nacional, especialmente na Amazônia brasileira e fronteiras terrestres, enquanto a indústria de Defesa cumpriu importantes entregas contratadas após 2008 com a implementação da Estratégia Nacional de Defesa ou END, revisada pela 3ª vez em 2020.
Os rígidos protocolos sanitários adotados durante a Pandemia permitiram as Forças Armadas brasileiras manterem-se em atividade, o mesmo acontecendo com a Base Industrial de Defesa brasileira, em que pese a ocorrências de atrasos em alguns programas e contratos.
Já o setor de eventos voltados para a indústria bélica foi fortemente atingido pelo COVID-19.
O cancelamento de eventos continentais como a Latin America Aerospace and Defence ou LAAD, que reunia bienalmente empresas brasileiras e internacionais especializadas no fornecimento de equipamentos e serviços para as três Forças Armadas, forças especiais, serviços de segurança, consultores e agências governamentais deram um tom sombrio para 2020 e também 2021, já que a onda de cancelamentos continua.
Os Programas Estratégicos da Marinha, do Exército e da Força Aérea registraram entregas importantíssimas em 2020, com efetiva participação da Base Industrial de Defesa brasileira, de fornecedores internacionais e instituições de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, tanto brasileiras quanto estrangeiras.
A Marinha do Brasil conquistou grande visibilidade com o PROSUB encerrando o ano com o 1º submarino prestes a entrar em serviço (Riachuelo), lançando ao mar o 2º submarino (Humaitá) e realizando a união de seções de casco do 3º (Tonelero) ao mesmo tempo que empreende amplo debate com a indústria naval brasileira e internacional para garantir a continuidade dos trabalhos de produção de meios navais militares em Itaguaí (previsão para um navio de apoio logístico, navios patrulha oceânicos e dois navios hidro-oceanográficos). O programa do submarino de propulsão nuclear iniciou a montagem do LABGENE, reator nuclear baseado em terra análogo ao que será construído para impulsionar o SN-BR Álvaro Alberto.
Com relação as novas escoltas Classe Tamandaré, que começou corveta e tornou-se uma fragata, esse programa apresentou pouquíssimos avanços em 2020, o maior deles, a instalação do escritório da EMGEPRON em Itajaí, junto ao Estaleiro Oceana (Consórcio Águas Azuis).
Na Aviação Naval, prosseguem as entregas dos helicópteros AH-11B Wild Lynx modernizados no 1º Esquadrão de Helicópteros de Esclarecimento e Ataque (HA-1) e Helibras UH-17 novos no 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-1), esses destinados as tarefas de treinamento e operações antárticas, dentre outras.
A Força Aérea Brasileira confirmou em 2020 o protagonismo dos programas envolvendo o Saab F.39 Gripen e Embraer KC390 com a chegada do primeiro caça de 36 encomendados e a continuidade das entregas do avião de transporte, o quarto aparelho devendo ser recebido ainda em dezembro corrente.
Em paralelo, a FAB também está modernizando sua frota de aeronaves AWACS Embraer E-99 Guardião (uma entregue) e implementando o sistema de comunicações seguras por Data-Link BR2, ampliando assim o alcance da sua defesa aérea e adequando-a para o emprego de mísseis além do alcance visual MBDA Meteor com total segurança.
Novos radares, fabricados no Brasil e instalados nas fronteiras do centro-oeste brasileiro também estão preparados para atuar na defesa aérea e controle de tráfego aéreo daquela crítica região.
A frota de treinadores T-27 Tucano da Academia da Força Aérea está sendo elevada ao padrão M (um protótipo em testes de voo) e o programa deverá ser efetuado por inteiro nas instalações do PAMA-LS empregando mão de obra técnica da própria força.
Com a assinatura do contrato para desenvolvimento do MICLA-BR, míssil de cruzeiro lançado do ar, a Avibras Aeroespacial tornou-se uma das maiores desenvolvedoras de tecnologia míssil no hemisfério sul, ao mesmo tempo que a Força Aérea Brasileira adiciona mais uma arma de alta tecnologia ao arsenal do F.39 Gripen, garantindo assim a hegemonia nos céus latino-americanos nos próximos anos.
Com o anúncio do STOUT, aeronave de propulsão híbrida destinada a substituir os Bandeirante e Brasília, a Força Aérea Brasileira confirma a tendência de substituir modelos Embraer por outros, tecnologicamente inovadores, também projetados e fabricados pela empresa brasileira, ajudando assim na sua recuperação após a malograda fusão com The Boeing Company.
Esse negócio, antes visto como promissor, está agora em disputa nos tribunais norte-americanos, já que a Embraer afirma que foi prejudicada pela desistência da parte americana em meio a uma crise da indústria aeroespacial mundial agravada pelo advento da pandemia do COVID-19, e agora exige nos tribunais compensações financeiras.
Quanto ao Exército Brasileiro, entregas importantes ajudaram a revitalizar sua Arma de Artilharia, especialmente o Programa Astros 2020 e obuseiros auto-propulsados M-109A5 BR.
Do primeiro, falta agora a homologação e entrada em serviço efetivo dos mísseis de cruzeiro AV-MTC, após uma complexa campanha de disparos reais que deverá acontecer empregando o sistema STREVI, adquirido, modernizado e entregue em 2020. Do segundo, ainda falta adquirir munições inteligentes guiadas e colocar em serviço os simuladores para treinamento virtual de equipagens.
Na área de blindados, a continuidade das entregas de VBTP-MSR 6x6 Guarani em ritmo lento deram o tom em 2020, já que a modernização dos carros de combate Leopard 1A5 BR não vingou, ao contrário dos EE-9 Cascavel, que terão parte da frota sobrevivente atualizada com sensores e sistema de comunicações mais modernos que os atualmente em uso, totalmente obsoletos.
Junto com os Guarani estão sendo entregues estações remotas de armas REMAX, produzidas no Brasil, e o veículo fabricado pela IVECO anotou exportações para as Filipinas e forte interesse argentino na sua compra, casada com aquisição de caminhões militarizados (motivo de visita do ministro da Defesa argentino a fábrica da IVECO em Sete Lagoas).
Na tentativa de retornar sua aviação de asas fixas, o Exército se viu frente a frente com um tremendo imbróglio devido a firme recusa da Força Aérea Brasileira em aceitar essa situação, em detrimento da sua aviação de transporte. Assim, a aquisição dos aviões SHORTS C.23B Sherpa entrou em um singular processo de esquecimento, o assunto praticamente desparecendo do noticiário especializado por falta de atualizações.
Imagens: Short Brothers/Avibras Aeroespacial/Roberto Caiafa/Força Aérea Brasileira