Uma megaoperação que mobilizou 65 investigadores e 12 procuradores, especializados em crimes financeiros, cumpriu mandados de busca e apreensão em escritórios da fabricante francesa de armamentos Thales na França, Holanda e Espanha. O foco das investigações seria a corrupção de funcionários brasileiros, ainda não identificados, na aquisição de equipamentos da Thales.
A investigação está dividida em duas fases.
A primeira, já conhecida, foi aberta no final de 2016, e envolve corrupção de funcionário público estrangeiro, corrupção privada, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, na venda de submarinos e construção do estaleiro e base naval em Itaguaí, no Rio de Janeiro.
Durante a visita oficial do então presidente francês Nicolas Sarkozy ao Rio em 2008, França e Brasil assinaram contrato para a venda de quatro submarinos de propulsão convencional do tipo Scorpène, por um valor estimado na época em 5,2 bilhões de euros.
Esses submarinos deveriam integrar componentes da Thales. Três deles já foram entregues.
A segunda fase da investigação, só agora revelada, foi aberta em junho de 2023, segundo fontes da Justiça citadas pelo jornal francês Le Figaro.
Já havia denúncias anteriores em relação ao programa de submarinos brasileiro conhecido como Prosub, cujas investigações ocuparam o noticiário nos anos de 2017 e 2018, e as novas suspeitas recaem sobre o fornecimento, ao Brasil, de satélites fabricados pela Thales na cidade de Cannes, na França.
O presidente Luís Inácio da Silva, no seu segundo mandato (2007/2011), decidiu comprar esse equipamento fabricado pela Thales em parceria com a italiana Alenia Space e denominadoSatélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas 1 (SGDC-1).
Oficialmente entregue pela Thales Alenia Space no final de 2016, o satélite foi lançado com sucesso por um foguetes francês Ariane em maio de 2017 e entrou em operação oficialmente em agosto daquele ano.
Modelo em escala do satélite SGDC-1. Firma: Roberto Caiafa
Mega Operação
Os 65 investigadores pertencem ao Escritório Central de Luta contra a Corrupção e Infrações Financeiras e Fiscais (OCLCIFF, na sigla em francês).
Os 12 procuradores são do Ministério Público Nacional Financeiro (PNF), com a colaboração das autoridades judiciárias holandesas e espanholas, e a coordenação da Agência de Cooperação Criminal da União Europeia (Eurojust).
A Thales confirmou a realização das buscas e apreensões e declarou que está cooperando com as autoridades. “A Thales enfatiza que cumpre rigorosamente as regulamentações nacionais e internacionais”, afirmou a empresa em nota de resposta enviada ao portal Infodefensa. “A empresa desenvolveu e implementou um programa global de compliance pelo qual se rege e que atende aos mais altos padrões industriais.”