Gen. Paixão (Brasil): "O obuseiro auto-propulsado sobre rodas é inédito no Exército Brasileiro".
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Gen. Paixão (Brasil): "O obuseiro auto-propulsado sobre rodas é inédito no Exército Brasileiro".

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Na terceira e última parte da entrevista com o general Paixão, do Comando de Artilharia do Exército Brasileiro, o militar discorre sobre o material de emprego da artilharia de campanha auto-rebocada e sua substituição (ou não), o inédito processo de escolha de um obuseiro autopropulsado de 155mm sobre rodas, atualmente na fase de consultas ao mercado, e a chegada dos obuseiros auto propulsados sobre esteiras M-109 A5 e viaturas blindadas remuniciadoras M992.

Paixão fala também na condição de gerente do Sub-Programa Estratégico Artilharia de Campanha, função que executa em pararelo as responsabilidades do Comando de Artilharia.

Infodefensa viajou até o Forte Santa Bárbara, em Formosa, sede do Comando de Artilharia do Exército Brasileiro, para a realização dessa reportagem, e agradece, nesta parte final da entrevista, ao Estado Maior do Exército, ao Comando de Operações Terrestres e ao Comando Militar do Planalto pela excepcional acolhida proporcionada a reportagem.

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Sede do Comando de Artilharia do Exército Brasileiro no Forte Santa Bárbara. Foto: Roberto Caiafa

A chegada dos obuseiros autopropulsados M-109 A5 Plus BR significou que tipo de melhorias? 

Os M-109 A5 Plus BR introduziram inúmeras capacidades modernas do traço A6 Paladin, como sistema de tiro digitalizado denominado Gênesis pela Imbel, barras de torção na suspensão, trava automática do tubo, nova lagarta T-154, sistema de navegação inercial, tubo M284 de 155mm, 39 Calibres, reparo M182, medidor de Vo (velocidade Inicial) e capacidade de disparar todas as munições padrão 155mm OTAN (incluindo assistidas e especiais como a Excalibur). Os novos A5 BR Plus já possuem a integração do sistema de tiro IMBEL Gênesis, sistema rádio digital Falcon III e "caixa" integradora THALES SOTAS, levam muito menos tempo para entrar em posição, atirar e sair de posição, evitando contra-fogos de bateria, e devido a precisão do sistema de navegação e alcance do sistema de comunicação, podem, se necessário, atuar isolado,s cobrindo uma grande área.

O EB estuda modernizar os M-109 A3/A5 existentes no inventário para o padrão A5 Plus BR?

O Projeto de Modernização dos M-109 A5 para receberem algumas das habilidades do traço Plus BR está a cargo do comandante da AD/3 (Artilharia Divisionária da 3ª Divisão de Exército), general Carlos Marcelo, e envolve algumas capacidades específicas como integrar o sistema de direção do tiro digitalizado Gênesis, o travamento automático do tubo, mais os sistemas de energia e navegação inercial. Os M-109 A3 apresentam tubos relativamente novos, sendo perfeitamente possível trazer esse expértise para uma frota de aproximadamente 40 exemplares que estão em excelentes condições mecânicas. Dessa forma, com os Plus BR e A5, pode-se atirar com performance dentro da realidade atual, as munições M-107 podem alcançar até 18 km, e usando-se o recurso base bleed (complemento aerodinâmico) ou assistência de foguetes, pode-se chegar aos 30 km citados. Já as munições inteligentes/especiais do tipo CopperHead, Excalibur e SMART, esse alcance sobe para 40km ou mais, e somente o Plus BR e A5 podem disparar essas munições na atualidade, pois eles contam com o tubo M284 de 39 calibres. Para os A3 ficam disponíveis as munições standard baseadas no tiro M-107, que a IMBEL está voltando esse ano a entregar para o Exército Brasileiro.

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Obuseiro  Auto Propulsado M-109 A5 Plus BR. Foto: Roberto Caiafa

Com relação as viaturas remuniciadoras M992, o que elas acrescentaram a operação dos M-109?

Antes das viaturas remuniciadoras M992, usávamos caminhões para transportar as munições, com suas óbvias limitações de mobilidade. Lembrando que as granadas de 155mm pesam em média 46/48kg cada uma, e por conta do seu maior tamanho, o M-109 só consegue levar até 36 delas prontas para uso. Surgiu então a idéia da obtenção de uma nova viatura de munições pela transformação dos obuseiros auto propulsados M-108, então em processo de desativação, para essa função. Um protótipo chegou a ser obtido pela remoção do tubo da arma de 105mm mais uma ampla modificação do antigo posto de tiro/torre. Ocorre que, por essa época, foi anunciado o oferecimento das viaturas M992 dentro do Excess Defence Articles por parte do Governo dos Estados Unidos. Praticamente novas, essas viaturas chegaram ao Brasil para serem empregadas a razão de uma delas para cada dois obuseiros M-109, e cada M992 pode transportar cerca de 90 obuses dos tipos mais comuns em dois racks do tipo colméia/favo de mel.

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Obuseiros M-109 estacionados junto a  viaturas blindadas remuniciadoras M992, no Parque Regional de Manutenção 5 em Curitiba, Paraná. Foto: Roberto Caiafa

Sobre a busca por um obuseiro auto prpulsado sobre rodas pelo EB, o que o senhor pode nos contar?

Boa parte dos Exércitos modernos que optaram pelos obuseiros sobre rodas de 155mm escolheram essa abordagem devido a sua grande mobilidade em condições favoráveis e o fato de que a logística sobre rodas e bem menos complexa (e onerosa) que a sobre lagartas. Destarte a não adesão do Exército dos Estados Unidos (US Army) a essa modalidade de artilharia, o restante do mundo abraçou essa capacidade sem reservas. Os franceses possuem o Caesar, os checos possuem o DANA, os israelenses criaram o ATMOS, mesmo sendo grande usuários de M-109 sobre lagartas, então, quando se possui um veículo sobre rodas obuseiro auto propulsado de 155mm, você pode levar essa capacidade com grande rapidez para o teatro de operações, inclusive usando o próprio meio para efetuar esse deslocamento, algo inviável com obuseiros auto propulsados sobre lagartas, que demandam caríssimos caminhões prancha capazes de transportá-los com segurança até a área de emprego. Esses obuseiros também podem empregar munições especiais da mesma faixa de alcance e performnces das munições citadas para o M-109 A5 Plus BR, com entrada em posição e saída com grande rapidez. A cadência de tiro é alta, o que propicia excelente apoio de fogo as unidades apoiadas. Outro detalhe importante, obuseiros sobre rodas podem atuar em cenários urbanos com grande efetividade. 

Como está sendo planejada essa aquisição?

A diretriz de implantação lançada em agosto desse ano já determinou o Request foi Information, e até o final de 2022 deveremos ter o lançamento do Request for Proposal. A idéia é equipar pelo menos três grupos de artilharia auto propulsada sobre rodas com essa aquisição (cerca de 36 exemplares). A portaria publicada em 15 de setembro determina que o Comando de Artilharia é o responsável pelo gerenciamento desse processo. A parte decisória caberá ao Alto Comando do Exército, e estamos muito bem encaminhados nessa aquisição. Por experiência, sabemos que esse processo costuma demorar, mas quando a decisão vier, será executada a implantação desse material de forma profissional e transparente.

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Além dos favoritos Caesar e ATMOS (França e Israel) o checo DANA e o sueco/britânico Archer também estão bem cotados para participar dessa aquisição. Fotos: Roberto Caiafa

Focando no M-101 e M-114, o que existe de planejamento e ações concretas para complementar e mesmo substituir essas duas vetustas peças de artilharia no inventário do EB?

Na atualidade o Exército possui 10 grupos de artilharia de campanha AR equipados com o M-101 e seis dotados com o M-114, e ambos os obuseiros são apontados como antiquados pelo seu alcance, considerado pequeno para os padrões atuais. Falando primeiramente do M-101, esse obuseiro AR é mundialmente reconhecido pela sua confiabilidade, precisão e simplicidade, além de ser um íten de baixo apelo tecnológico e custos reduzidos quando comparado com material mais moderno. Como ferramenta de instrução, o M-101 é simplesmente perfeito, pois apresenta a rusticidade necessária para receber os maus tratos em campo durante os treinamentos. Mas se pensarmos em substituir esses obuseiros por material novo de 105mm, vamos verificar que hoje apenas dois modelos novos estão em oferta no mercado com esse calibre, o turco Boran, baseado no Light Gun e o europeu LG1 da Nexter, baseado no M-102 porém com aperfeiçoamentos importantes. Basicamente, essas armas apresentam um sistema de direção do tiro digitalizado, algo que já fazemos aqui com o Sistema de Direção de Tiro Digitalizado Gênesis, da IMBEL, e podem obter alcance maior empregando munições 105mm assistidas/propelidas. Se a opção for aquisição via Foreign Military Sales ou FMS, aí temos uma situação a ser considerada. É de conhecimento público uma oferta de venda ao Brasil, via FMS, de obuseiros AR M-119A2 Light Gun (percussão mecânica) usados e estocados. Esses Light Gun 105mm de fabricação norte-americana, inicialmente, somaram mais de uma centena de exemplares ofertados (Boletim do Exército nº 17/2021). Com o passar do tempo, e por diversos motivos, essa oferta diminui para pouco mais de 80 unidades, e agora chegou-se a um total de apenas 20 obuseiros disponíveis. A letter of acceptance  que o Estado Maior do Exército está tramitando nesse momento trabalha com essa quantidade, insuficiente para equipar dois grupos. Estamos aguardando agora o desenrolar desses documentos no Governo Norte-Americano.  Por enquanto, os M-101 vão prosseguir em uso apresentando uma disponibilidade média de 80%. O Arsenal de Guerra de São Paulo fez um criterioso trabalho de nacionalização de componentes e peças cruciais, como o sistema de recuo e retentores, que nos permite manter essas armas funcionais e atirando.

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O veteraníssimo obuseiro AR M-101 de 105mm. Foto: Roberto Caiafa

E com relação ao obuseiro de 155mm M-114, o que o Exército Brasileiro decidiu?

 Havia uma intenção já conhecida de substituir-se os M-114 por obuseiros M-198 norte-americanos via FMS, porém essa opção hoje conflita com a prioridade que está sendo dada para o projeto de aquisição do obuseiro de 155mm auto propulsado sobre rodas, e com o fato de que o M-198 é um material antigo, militarmente comprovado mas já bastante desgastado. O Estado Maior do Exército decidiu aguardar a definição da VBCOAP 155mm SR antes de investir esforços novamente no tema. Com o amplo domínio que o AGSP possui na manutenção do M-114, incluindo a nacionalização de componentes consumíveis, mais o fato da IMBEL voltar a entregar a granada de produção M-107, considerada de baixo custo, pode-se concluir a questão da substituição do M-114 como sub-júdice. Mais estudos deverão ser encetados para apoiar o Estado Maior do Exército  em uma decisão. Enquanto isso, seguem os planos de manutenções corretivas e revitalizações dos M-101A1/A2 e M-114, que estão sendo mantidos com sucesso, assim como os obuseiros M56 Oto Melara e M-118 Light Gun (percussão elétrica). 

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Obuseiro AR M-114 de 155mm do Exército Brasileiro. Foto: Roberto Caiafa



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