Sistema Astros, 30 anos no Exército Brasileiro
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Sistema Astros, 30 anos no Exército Brasileiro

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Após o fim da 2ª Guerra Mundial e o domínio da indústria de mísseis nas linhas de frente das super potências Estados Unidos e União Soviética, o Exército Brasileiro empreendeu diversas pesquisas e experimentações usando foguetes de concepção própria.

Esses ensaios utilizavam foguetes montados, transportados e testados/lançados de veículos blindados excedentes ou obsoletos, vendidos ou doados pelos Estados Unidos e modificados pela engenharia militar nacional em parceria com algumas poucas empresas visionárias.

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O Engenheiro João Verdi e sua criação, o Astros, no deserto Iraquiano em plena Guerra Irã x Iraque. Foto: Avibras

Uma delas, a Avibras Aeroespacial, fundada pelo engenheiro João Verdi, começou sua vida no mercado no início dos anos 60 com a ideia de produzir um avião de treinamento militar, mas acabou tornando-se fabricante de propelente sólido para foguetes, tecnologia com a qual venceu, em 1962, uma concorrência internacional realizada pelo Conselho Nacional de Pesquisa.

Com o sucesso de seu propelente, o Ministério da Aeronáutica solicitou à empresa o desenvolvimento do foguete DM 6501 e da rampa de lançamento DM 6502, ambos de especificação de sua Diretoria de Material, que mais tarde receberam a denominação Sonda I.

No início da década de 1970, ainda trabalhando no foguete Sonda, no caso a versão melhorada Sonda III, a Avibras redirecionou sua capacitação para a fabricação de foguetes menores, de emprego de defesa, com vistas a atender às Forças Armadas Brasileiras e à exportação.

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Os lançadores de  foguetes superfície-superfície SBAT de 70 mm. Foto: Avibras

O engenheiro Verdi avaliou onde uma pequena empresa como a sua poderia tirar proveito do mercado de defesa e decidiu então, ingressar com força total no segmento de foguetes.

A empresa, atendendo a requisitos operacionais e programas de pesquisa do Exército Brasileiro, desenvolveu e produziu foguetes superfície-superfície SBAT de 70 mm, com lançadores de 36 foguetes e alcance de até 7 km, rebocados per veículos leves. 

Posteriormente, seriam desenvolvidos os foguetes SS-40 e SS-60 em um programa conjunto entre Exército, Força Aérea e Avibras.

Utilizar o propelente desenvolvido para os foguetes Sonda em seus foguetes de aplicação militar, essa foi a grande decisão da Avibras. 

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A principal unidade industrial da Avibras, em São José dos Campos (SP). Foto: Avibras

Os foguetes tornaram-se mais precisos e com alcances maiores que a concorrência, o que contribuiu para as vendas do produto no país e fora dele.

Foram produzidos a seguir lançadores de foguetes de 108 mm para o reaparelhamento da Artilharia do EB. 

Embora versátil e de comprovada eficiência, o lançador 108 R tinha limitações em termos de alcance e precisão e desejava-se um armamento mais poderoso. 

Para satisfazer as exigências técnicas da força terrestre, a empresa trabalhava no desenvolvimento de um novo lançador.

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O conceito modular do Astros fica evidente nesse folder da Avibras, lançado no final da década de 1970. Imagem: Avibras

Faltava alguém para financiar o novo produto e completar o seu desenvolvimento, e o Governo do Iraque, então em guerra com seu vizinho Irã, na busca de uma arma que pudesse desequilibrar o conflito em seu favor, topou o negócio.

Iraque, o cliente lançador do ASTROS

Em outubro de 1981, a empresa firmou contrato com o Iraque para o fornecimento de nove baterias de lançadores de foguetes de saturação ao exército daquele país, num negócio de cerca de US$ 500 milhões, com o adiantamento de parte dos recursos. 

Esse dinheiro financiou o investimento na construção de novas fábricas, na aquisição de equipamentos e na contratação da mão de obra. Os trabalhos resultaram na criação dos ASTROS (Artillery Saturation Rocket System).

A construção dos veículos ASTROS foi um desafio à parte para a Avibras, que não possuía tal capacitação. 

Para suprir a carência, a empresa buscou o pessoal da indústria automobilística para mobiliar a Tectran, empresa criada para atender a Avibras. 

Os protótipos das viaturas inicialmente receberam chassis nacionais, que não possuíam tração dianteira; e construir um veículo 6X6, com aplicação militar, sem tração dianteira tornou-se inviável. 

Outra dificuldade foi em relação ao sistema de enchimento dos pneus, pois os eixos traseiros fabricados no Brasil naquela época não possuíam provisão para tal sistema.

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O protótipo Astros1, informalmente denominado Brucutu, foi o começo da saga Astros. Foto: Avibras

O protótipo montado sobre o chassi nacional foi denominado ASTROS-1 e apelidado internamente de “Brucutu”

Após negociações com a Mercedes Benz, decidiu-se importar da Alemanha chassis preparados para o sistema de enchimento dos pneus, com suspensão reforçada e tração total.

O veículo básico foi concebido com flexibilidade de emprego, e para o Iraque foram criadas três versões: veículo lançador, veículo remuniciador e estação diretora de tiro - todos montados sobre o mesmo chassi 6x6. 

Para a Arábia Saudita foram incorporadas as versões: veículo de comando e controle e veículo oficina.

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Linha de produção com os primeiros Astros destinados a Arábia Saudita. Foto: Avibras

A partir de 2001, também seriam utilizados os chassis 4x4 para algumas versões dos veículos. Um requisito para esses blindados foi a qualidade do acabamento interno. 

Entre a chapa blindada externa e o revestimento interno eles possuíam isolante térmico; e o interior tinha o conforto de um caminhão civil: bancos estofados e reclináveis, ar condicionado, etc. - tudo para que os operadores não tivessem a sensação de desconforto comum aos blindados militares da época.

Os foguetes foram fabricados com tecnologias ainda não utilizadas pela empresa. 

Os revestimentos metálicos dos foguetes, que até então eram soldados, passaram a utilizar o processo de confecção flow form.

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Uma bateria completa de veículos Astros, em sua primeira versão, e seu poder de fogo. Foto: Avibras

O sistema ASTROS-2 (construído a partir dos chassis importados da Mercedes) foi desenvolvido e produzido para o Iraque ao longo da primeira metade da década de 1980. 

Apesar do sucesso do produto, o empreendimento não foi financeiramente rentável à Avibras - a não ser na fase inicial, quando o down payment contratual permitiu a expansão das instalações.

Em 1984, ocorreram os primeiros embarques dos veículos ASTROS-2 para o Iraque. 

Em novembro daquele ano, a Arábia Saudita adquiriu uma bateria do sistema ASTROS-2 para experimentar o equipamento. 

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Corte esquemático da submunição de carga explosiva perfilada transportada pelos foguetes SS-60 e SS-80. Imagem: Avibras

Um ano depois, em novembro de 1985, a Avibras fechou contrato com a Arábia Saudita para o fornecimento de dez baterias ASTROS-2, um negócio de US$ 389 milhões. As vendas para o Iraque e para a Arábia Saudita foram distintas.

Os árabes adquiriram mais viaturas que o Iraque. Por outro lado, como o Iraque estava em guerra contra o Irã, a quantidade de munição adquirida foi superior à da Arábia Saudita. 

A posterior aquisição pelos árabes dos foguetes necessários à Guerra do Golfo, em 1990, viria a contribuir significativamente para a sobrevivência da empresa.

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Primeiro embarque Astros para o Iraque, em 1984. Foto: Avibras

Após a expressiva venda à Arábia Saudita, a empresa venderia ainda uma bateria do sistema ASTROS-2 ao exército do Qatar, por US$ 28 milhões. 

Exaurido pelos gastos com a guerra contra o Irã, no primeiro semestre de 1987 o Iraque começou a falhar no pagamento de suas obrigações com a Indústria de Defesa Brasileira. 

Naquele momento houve a cisão entre a Avibras e o governo iraquiano.

O Brasil finalmente compra o Astros

No início da década de 1990, o Exército Brasileiro finalmente decide adquirir o Astros. Inicialmente, as cinco baterias de lançadores múltiplos de foguetes foram localizadas espalhadas pelo território nacional.

Para missões de emprego solo-solo foram designadas a 1º Bateria LMF, baseada em Brasília (DF) e a 3° Bateria LMF, baseada em Cruz Alta (RS).

Pela Artilharia de Costa, foram alocados meios Astros a 1° Bateria do 10° GACosM, em Macaé (RJ), no 6° Grupo de Artilharia de Costa Motorizado – Grupo José Bonifácio – em Praia Grande (SP); e no 8° Grupo de Artilharia de Costa Motorizado – Grupo Presidente Ernesto Geisel, localizado em Niterói (RJ).

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As viaturas MK6 utilizam chassi Tatra e são empregadas pela 16º GMF, unidade espelho do 6º GMF. Foto: EB

Essa primeira compra totalizou vinte veículos lançadores (LMU), dez municiadores (RMD), duas unidades de controle de fogo (UCF), duas unidades oficina (OFV) e dua viaturas meteorológicas (MET), uma frota de 36 veículos Astros.

Essa disposição durou 10 anos, até que em 2003 o Alto Comando decidiu concentrar toda a frota Astros em um único local, como marco de introdução do Programa Estratégico do Exército Astros 2020, e assim surgiu o 6º Grupo Lançador de Mísseis e Foguetes, baseado no Forte Santa Bárbara, que está localizado dentro do Campo de Instrução de Formosa, maior área de adestramento e tiro real com armamento do Exército Brasileiro, no Estado de Goiás, e distante cerca de 170 km do Distrito Federal.

Em agosto de 2011, o Ministério da Defesa do Brasil anunciou o início de um projeto de R$ 1,09 bilhão (cerca de US$ 685 milhões em valores da época) para atualizar o sistema de lançadores múltiplos de foguetes ASTROS (Artillery SaTuration ROcket System) da Avibras, da configuração MK3 para a configuração MK6. 

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Somente as viaturas padrão MK6 ou MK3M modernizadas possuem a capacidade de disparar o míssil de cruzeiro AV-MTC 300. Foto: EB

Em 2009 o governo alemão vetou a venda do chassi Mercedes-Benz para a Avibrás por entender que seu uso era tático (combate) e não logístico (transporte), o que obrigou a empresa a buscar um novo chassi. 

O fabricante checo Tatra foi o escolhido, e o novo chassi na versão T-815-7 – 6x6 entregou um melhor desempenho em terrenos acidentados, surgindo assim a versão Mk-5 e posteriormente a versão Mk-6. 

Assim, foi contratada pelo Exército a entrega de uma frota de 20 viaturas novas, no padrão MK6 Tatra, para compor o 16º Grupo Lançador de Mísseis e Foguetes, e uma frota de 18 viaturas do 6º Grupo, com powertrain e chassi Mercedes Benz, foi modernizada e elevada ao padrão MK6. 

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Disparo do míssil de cruzeiro AV-MTC 300 durante os testes de desenvolvimento. Foto: EB

No escopo do Programa Estratégico Astros 2020 foi contratado o desenvolvimento de um foguete de curto alcance guiado na fase final de voo e um míssil de cruzeiro com alcance de ataque de 300 km.

O contrato completo de desenvolvimento do míssil AV-TM foi avaliado em US$ 195 milhões, enquanto o contrato para desenvolver o foguete SS-AV-40 de 180 mm guiado por GPS/INS com um alcance de ataque de 40 km foi avaliado em US$ 40 milhões.

O míssil possui propulsão inicial de lançamento através de booster foguete de queima rápida descartável, e depois aciona uma turbina a jato para o voo de cruzeiro. 

O AV-TM 300 voa até o seu alvo usando orientação GPS/INS juntamente com correspondência de terreno, a missão sendo gravada na memória através da inserção de waypoints que guiam as manobras até o impacto.

O míssil de cruzeiro brasileiro, na sua versão de lançamento, não viola nenhuma cláusula do Regime Internacional de Controle de Tecnologia de Mísseis, que proíbe as exportações de mísseis que podem transportar uma ogiva de 500 libras por mais de 300 milhas por seus signatários.

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O Missil de Cruzeiro AV-MTCR 300 está na fase final de testes antes da sua entrada em serviço. Imagem: Avibras

O míssil está dentro dos requisitos de distância, e sua ogiva inicial, avaliada em cerca de 150-200 libras está bem abaixo do limite de carga útil. 

Mais importante, o MTCR não impede que o Brasil desenvolva esses equipamentos para uso próprio, e aí a limitação é apenas a capacidade tecnológica e de investimentos do País para obter essa arma com alcance e cabeça de guerra que desejar.

Com relação às suas principais características técnicas, o míssil é equipado com um computador central que combina um sistema microeletromecânico (MEMS) integrado a um dispositivo de navegação GPS ativo que fornece continuamente informações de posicionamento para correção de curso, possibilitando as primeiras manobras de ajuste para inserir o míssil no cruzeiro. rota e a execução das manobras finais de mira sobre o alvo. 

Tudo isso fornece ao míssil uma capacidade de precisão de 30 metros. O míssil também pode transportar uma única ogiva altamente explosiva de 200 kg, equipada com o explosivo RDX, conhecido por ser mais poderoso que o TNT

Como opção, a ogiva também pode transportar os mesmos 200 kg de munições cluster, com 64 submunições para uso exclusivo em alvos antipessoal ou antitanque. 

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Disparo do míssil de cruzeiro AV-MTC 300 durante os testes de desenvolvimento, de outro ângulo. Foto: EB

O AV-TM 300 usa foguetes de combustível sólido para lançamento, e um turbojato durante o vôo de cruzeiro subsônico. Por último, mas não menos importante, o míssil é capaz de voar em baixas altitudes durante a fase de cruzeiro, reduzindo a possibilidade de detecção por radares inimigos.

Seus desenvolvedores na Avibras o consideram um míssil/sistema multiuso, utilizado para aquisição de alvos estratégicos, interdição de área e guerra assimétrica. 

No entanto, embora o AV-TM 300 se destaque no mercado global pelo seu alcance, ainda possui um fator limitante relevante: a ausência de um sistema de orientação final (seeker). 

Como o pacote de “orientação” do míssil é uma combinação de GPS/INS e correspondência de terreno, isso traz uma consequência tática que é o AV-TM 300 ser um míssil para ser usado apenas contra alvos fixos, como antenas, aéreos e navais. bases, refinarias, portos e instalações industriais e militares. 

Um avanço do sistema Astros 2020 foi a troca do sensor de direção de tiro. 

Em 2015 foi escolhido como novo sistema de Controle de Tiro e Rastreamento o equipamento radar Fieldguard 3 Fire Control da empresa alemã Rheinmetall, com um alcance de até 100 Km. 

As antigas diretoras de tiro com radar Contraves foram modernizadas para o novo radar, e viaturas novas nessa configuração também foram entregues.

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O radar Fieldguard 3 Fire Control da empresa alemã Rheinmetall, montado em chassi Tatra MK6. Foto: Roberto Caiafa

Comando de Artilharia

Para consolidar todas essas obras, aquisições e mudanças, foi criado o Comando de Artilharia do Exército, um Grande Comando de Artilharia concebido no escopo do Programa Estratégico do Exército ASTROS 2020. 

Sua criação faz parte do processo de transformação do Exército que visa ampliar as capacidades operacionais e o poder de dissuasão da Força Terrestre.

O Comando de Artilharia do Exército é composto pelo 6º Grupo de Mísseis e Foguetes, pelo 16º Grupo de Mísseis e Foguetes, pelo Centro de Instrução de Artilharia de Mísseis e Foguetes, pelo Centro de Logística de Mísseis e Foguetes e pela Bateria de Comando de Artilharia do Exército

Em sua nova sede, inaugurada em 2020, esse Grande Comando é responsável pela Artilharia de Mísseis e Foguetes do Exército Brasileiro, empregando um dos mais modernos sistemas de defesa existentes no mundo, o Astros, fabricado no Brasil pela Avibras Aeroespacial e Defesa.

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A trajetória do Astros se confunde com a história da Avibras e seu fundador, o engenheiro João Verdi. Foto: Avibras



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