O Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM), Almirante de Esquadra Petronio Augusto Siqueira de Aguiar, e o Presidente da Itaguaí Construções Navais (ICN), André Portalis, receberam, no último dia16, a reportagem de Infodefensa nas instalações da DGDNTM, no Rio de Janeiro (RJ), para um Café com Defesa.
Durante o evento, Petrônio concedeu uma abrangente explanação sobre os programas e atividades da Marinha do Brasil sob a responsabilidade da sua diretoria. Andre Portalis complementou com importantes atualizações sobre os trabalhos da Itaguai Construções Navais em apoio ao PROSUB.
O Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM), Almirante de Esquadra Petronio Augusto Siqueira de Aguiar, e o Presidente da Itaguaí Construções Navais (ICN), André Portalis (Arte: Infodefensa)
Quantos programas a Marinha conduz na atualidade, e quais exemplos práticos de entregas desses programas o senhor poderia citar?
Petrônio: Na atualidade, a Marinha do Brasil está conduzindo 47 projetos de CT&I em desenvolvimento no âmbito do Centro Tecnológico da Marinha no Rio de Janeiro (CTMRJ). Cito como exemplos práticos de produtos desenvolvidos dessa forma o MAGE Defensor, um equipamenbto que será produzido no Brasil pela Omnisys para instalação nas Escoltas Classe Tamandaré, ou o Skua II, sistema de consciência situacional que aumenta bastante as capacidades dos sistemas táticos a bordo dos navios da esquadra e deverá tornar-se no futuro elo essencial do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz). Outro importante programa é o Radio Definido por Software-Defesa (RDS-D), um programa coordenado pelo Ministério da Defesa e que conta com a participação da Marinha e das outras forças. Existem muitos outros, mas é importante ressaltar a característica de dualidadede tecnológica da maior parte, o que acaba revertendo-se em beneficios para a sociedade como um todo. O modelo que buscamos seguir é o da tripla hélice, envolvendo a Marinha, as faculdades e centros de pesquisa/estudos, o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Base Industrial de Defesa e Segurança do Brasil (BIDS-BR).
Como aumentar a maturidade tecnológica desses programas e assim atrair mais empresas, almirante?
Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM), Almirante de Esquadra Petronio Augusto Siqueira de Aguiar
Petrônio: Esse é o nosso grande desafio, fazer com que as empresas entendam que precisam estudar o mercado, ter um plano de negócios e ver quais as perspectivas de sucesso caso decisam entrar em ação, seja no Programa de Submarinos seja no Programa Nuclear da Marinha em ARAMAR. A independência tecnológica do País demanda a capacidade de gerenciar riscos importantes como a energia nuclear para propulsão e seus inúmeros desafios. As sinergias entre Marinha do Brasil e ICN (Itaguai Construções Navais) serão as maiores beneficiárias desses desenvolvimentos.
O PROSUB atualmente prontifica a entrega a Esquadra do S-40 Riachuelo, primeiro dos quatro submarinos diesel-elétricos S-BR. A entrega desse meio não estava prevista para o final de 2021?
Petrônio: Atrasos na entrega do primeiro exemplar de série de sistemas de armas complexos como os S-BR são normais, mesmo por que estamos analisando todos os dados gerados nos inúmeros testes aos quais o Riachuelo vem sendo submetido. Há poucos dias o S-40 retornou de uma prova de mar onde disparou submerso um mock-up do míssil Exocet, testando todo o procedimento de inundar os tubos de proa, abrir comportas, lançar a cápsula com o míssil e essa atingir a superfície conforme esperado. O Riachuelo já disparou torpedos pesados F.21, cumprindo satisfatoriamente com as performances previstas para essa avançada arma inteligente, faltando agora o disparo do míssil submerso até o impacto contra um alvo de superfície. São tarefas de grande complexidade mas que estão sendo feito a contento e dentro dos resultados almejados. O segundo submarino deverá ser lançado ao mar ainda no 2º semestre de 2022, e sua entrega deverá ocorrer em 2023 ao setor operativo, o terceiro em 2024 e o último em 2025.
Quais instalações e facilidades estão sendo preparadas em Itaguaí para apoiar esses submarinos quando em serviço, nas demandas de manutenção?
Petrônio: Estamos ultimando os preparativos para ativar o estaleiro de manutenção, pensado justamente para apoir os S-BR ao longo de suas vidas em serviço, além de esse local ser capaz de prover apoio para outros meios da Esquadra, como navios de diferentes tipos e tamanhos. A Marinha do Brasil e a ICN estão atentas a isso, e atualmente estamos fazendo todo o cabeamento elétrico das instalações do estaleiro para preparar sua ativação até o final de 2022.
E com relação ao submarino "Álvaro Alberto", como está o cronograma de desenvolvimento?
Petrônio: Sobre o cronograma do submarino de propulsão nuclear, podemos informar que depois de tantos anos de abnegado esforço, temos um cronograma integrado entre a construção do submarino (casco), instalações nucleares em Itaguai (ICN/EBN), ativação efetiva do LABGENE, o reator de testes em terra, e o importante processo de emissão das licenças nucleares. As que envolvem os trabalhos em terra continuam sob a responsabilidade da Comissão Nacioonal de Energia Nuclear (CNEM), e tudo que envolva reatores de meios navais passa ser responsabilidade da Agência Naval de Segurança Nuclear e Qualidade, sob a égide da Marinha do Brasil. Portanto, o primeiro meio naval dotado de reator nuclear, licenciado pela Marinha, será o submarino de propulsão nuclear. A primeira licença parcial de construção foi concedida no final de 2021, e eisso influiu decisavamente no avanço do desenho final do projeto desse meio estratégico. Portanto, podemos afirmar que o submarino nuclear já começou a ser construído, pois assinamos o contrato da construção da primeira seção de qualificação do casco desse submarino de propulsão nuclear. Penso que o Andre Portalis pode dar mais informações.
O Presidente da Itaguaí Construções Navais (ICN), André Portalis
Portalis: A seção de qualificação está prevista para ser alçançada entre 2022 e 2023 em duas etapas, uma primeira seção será feita em aço comum, para qualificar e "calibrar" as ferramentas de construção desse casco. Após essa ação inaugural, será feita a seção de qualificação com o aço especial importado, que já foi adquirido em 2021 e será entregue pelo fornecedor no final de 2022. Definidas e qualificada as ferramentas de construção e os procedimentos, segue a construção da seção propriamente dita, e se ela ficar dentro das especificações, poderá ser aproveitada no submarino, caso não, será refeito todo o processo até que se obtenha todas as qualificações necessárias. Isso tudo por que essa seção fundamental do casco, a charlie, é a mais complexa, pois será a que vai receber o reator nuclear. As outras seções possuem desafios muito menores pois não serão novidade para as equipes de Itaguaí. O grande call for work é a qualificação da seção charlie do reator nuclear de maneira satisfatória, e por isso a demanda por maior preparação da força de trabalho e equipamentos.
E com relação a integração entre os sistemas de controle das plataformas (submarino) e sistemas de armas, sensores e sistemas de comando, controle e comunicações, como está o cronograma?
Petrônio: Os submarinos convencionais estão com previsão de término do contrato de material e de construção propriamente dito até o final de 2022. Os sistemas de combate e de plataforma estão completamente atualizados no estado da arte. A medida que a construção e entrega dos meios avançam, as modernizações e novas capacidades são adicionadas e disponibilizadas para toda a frota. Por isso o comissionamento do estaleiro de manutenção é tão importante para o ano de 2023. Podemos adicionar a isso a transferência tecnológica dos sistemas de combate dos submarinos convencionais, temos total domínio do suporte, mantenimento e operação desses meios. Com a ampliação de atividades da ICN além do tema submarinos, como vem sendo estudado, tal movimento trará ainda mais capacidades para estaleiros altamente capacitados.
Portalis: Os equipamentos de combate dos S-BR, quando são montados nos submarinos, seguem um processo dinâmico de atualizações, por exemplo, nas comunicações já temos novas capacidades a serem inauguradas no segndo submarino. Qualificamos pesoal para cada nova etapa na ICN trabalhando em parceria com a Marinha do Brasil. As equipes estão treinadas e capacidades, e o contrato estipula métodos de controle que evitam obsolescência de qualquer tecnologia durante a vida operacional dos submarinos. É um processo dinâmico e contínuo de qualificação e atualização de pessoal e atualização de hardware/software.
A seção fundamental do casco, a charlie, é a mais complexa, pois será a que vai receber o reator nuclear.desenvolvido pelo Programa Nuclear da Marinha do Brasil (Imagem: Marinha do Brasil)