Blindado no Brasil: o canto do cisne para o Leopard 1A5 BR
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Blindado no Brasil: o canto do cisne para o Leopard 1A5 BR

O Exército Brasileiro também utiliza a versão M60 A3 TTS desde 1997
Pelotão Leopard 1A5 BR +M-113 BR
O Leopard 1A5 BR é a coluna dorsal das unidades de Cavalaria do EB. Foto: Roberto Caiafa
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Para entender o problema carros de combate no Exército Brasileiro, vamos recorrer a dois momentos, naturalmente desconsiderando a VBC CC M-60 A3 TTS, já que esse carro de combate não é objeto de um Programa de Modernização, a motivação do artigo.

O primeiro momento, voltemos ao início dos anos 2000, quando o Brasil compra do Governo Alemão 260 KMW Leopard 1A5 BR, incluindo aí as versões especializadas recovery, engenharia e lança pontes, e encerra definitivamente quatro décadas de uso dos obsoletos M-41 Walker Bulldog e derivados modernizados/modificados, se recuperando também de uma primeira experiência não muito exitosa com carros de combate KMW Leopard 1Be adquiridos dos estoques do Exército Belga.

581675KMW Leopard 1A5 BR do Exército Brasileiro. Firma: Roberto Caiafa

Esses Leopard pioneiros utilizavam um sistema de tiro fora do padrão alemão, conhecido como EMES 18, empregando ao invés disso um modelo local, produzido pela empresa Sabiex, e seu estado de conservação, no geral, era avaliado como abaixo do satisfatório, devido a falta de um contrato de suporte logístico e apoio do fabricante original.

Os Leopard 1A5 BR, por sua vez, chegaram ao Brasil em excelente estado, com um plano logístico definido e contratado/renovado com o fabricante em etapas, com grande quantidade de ferramental, material de suporte e acessórios, muitos deles inéditos para as Forças Blindadas brasileiras, tal era o nível de obsolescência que existia anteriormente, calcado em modelos, doutrinas e conceitos da 2ª Guerra Mundial e derivados do Pós Guerra.

Com os Leopard 1A5 BR, o Brasil conseguiu "entrar" na Guerra Fria dos anos de 1980, passando a utilizar computadores de tiro e comunicações "solid state", sistemas ópticos e arma principal estabilizados, tudo analógico, mas funcional, complementado por um sistema de visão noturna/telêmetro laser de 2ª geração.

48787814366 946a32e2c8 kPosto do atirador de um Leopard 1A5 BR: sistema de tiro EMES 18 analógico. Firma: Roberto Caiafa

O segundo momento, vamos a fevereiro de 2023, quando fotografamos um KMW Leopard 1A5, idêntico aos empregados pelo Brasil, exposto no Museu de Latrun, em Israel, e doado pelo Governo Alemão Ocidental em 1990 (portanto, há 33 anos), como forma de enriquecer a vasta coleção de veículos blindados ali exposta (a maior do mundo a céu aberto).

Não há como negar, o Leopard 1A5 na atualidade pode ser visto muito mais como uma peça de museu do que como um veículo operacional, na primeira metade da segunda década do século XXI. Como tem sido demonstrado na atualidade, seu papel no campo de batalha moderno está mais para o apoio de fogo a infantaria do que propriamente o combate contra MBT, especialmente os mais recentes.

Com a invasão da Ucrânia pela Russia em 2022, mais a recente decisão NATO de enviar os estoques remanescentes desses veículos para armar os ucranianos, junto com os mais modernos Leopard 2, Challengers e T-72 modernizados pelos poloneses, a situação dos VBC CC brasileiros ficou ainda mais crítica.  Não haverá mais acesso pelo Brasil ao mercado de spare parts, peças e componentes, pois o que existir na Europa deverá ser direcionado para o esforço de guerra no Leste. 

Estoques leopard belgicaMBTs Leopard 1A5 e caça tanques SK-105A2S, ex-Exército Belga, estocados na Europa. Firma: Infodefensa.com

O contrato de suporte da frota de Leopard 1A5 assinado com a KMW está em vigor até o final de 2027/início de 2028.  Após isso, operar esse blindado sem o apoio do fabricante será um desafio logístico de alto custo e com baixa disponibilidade final de veículos. 

Isso explica por que somente 25% da frota existente será modernizada (52 carros), segundo os planos publicados pelo próprio Exército. Boa parte da frota restante, não modernizada, pode ter um fim nada glorioso, ser usada para fornecer peças e componentes, processo conhecido como "canibalização".

Para tentar contornar ou mitigar esse óbice, a Diretoria de Fabricação do EB vem trabalhando no sentido de implementar um Projeto de Nacionalização de Componentes para o Leopard 1A5 BR, contando com o apoio e parceria de empresas brasileiras de autopeças especializadas no setor de veículos pesados.

Ares leopard caiafaCorte esquemático da modernização de torre do Leopard 1A5 BR proposta pela ARES Aeroespacial e Defesa. Firma: Roberto Caiafa

Modernização do Leopard 1A5 BR

Os requerimentos para a modernização dos Leopard 1A5 BR possuem dois tipos de setup apresentados a indústria, e que falam especificamente da torre.  O casco (hull) e a motorização MTU MB 838 Ca-500 V-10, que entrega uma potência nominal de 830 HP, não deverão receber nenhum tipo de melhorias.

48787453083 9de7d30ae8 kO motor MTU MB 838 Ca-500 V-10 não vai ser modificado ou trocado. Firma: Roberto Caiafa

O setup mais "econômico" proposto entrega comunicações digitais básicas mais preparação para o C2 de combate, novos optrônicos para comandante, atirador e principalmente, para o motorista, instalação de ar-condicionado para a tripulação (não provê modificações na torre/arma original quanto a elevação e giro). 

O setup mais "completo" entrega o C2 de combate mais comunicações digitalizadas, optrônicos para motorista, atirador e comandante, modificações no giro e elevação da torre/arma para um sistema elétrico, instalação de ar-condicionado para a tripulação, sistema laser para detecção de ameaças, sistema de navegação inercial, sistema anti-incêndio automatizado e instalação de uma APU (Auxiliar Power Unity).

Ares leopard optronicos caiafaO Coaps ou Commander Open Architecture Panoramic Sight oferece performance atualizada estabilizada nos dois eixos para a torre modernizada proposta pela ARES. Firma: Roberto Caiafa

Um novo sistema de controle de tiro, substituindo o antigo EMES 18, é requerimento comum as duas opções, ampliando assim o leque de munições 105 mm disponíveis, melhorando a eficiência do carro quanto a probabilidade de destruir o alvo no 1º disparo e permitindo distâncias de engajamento ampliadas com precisão, de dia ou a noite.

Basicamente, o Leopard 1A5 BR fará o que ele já faz hoje, dentro dos alcances e limitações da arma de 105 mm, porém com maior probabilidade de acerto no 1º tiro (PK), e extraindo o máximo do envelope  de perfomance das munições, além de entregar uma consciência situacional melhorada e comunicações digitais criptografadas integradas com outros veículos blindados da frota do Exército Brasileiro.

48787808796 b1949b3b2a kO EB possui uma estrutura logística de excelência para apoiar blindados ,especialmente aqueles baseados na região sul do País. Firma: Roberto Caiafa

Troca de Torre na Modernização

Muito se comentou sobre a modernização do Leopard 1A5 BR oferecer a possibilidade de troca da torre, existindo a oferta concreta de duas soluções, apresentadas na Eurosatory 2022, a torre 3105, da John Cockerill, e a torre Hitfact II, a mesma empregada no Centauro 2 8x8 adquirido pelo Exército Brasileiro, já com o canhão de 120mm.

A proposta da John Cockerill, exposta montada em um Leopard 1 na área externa da Eurosatory 2022, deixou visível o problema de integração anular entre a torre/arma e o chassis, o que exigiu a instalação de um ressalto (neck) para encaixar o basket do canhão de 105 mm. 

Como essa arma, segundo o fabricante, apresenta grandes ângulos de elevação, qualificando a torre para emprego urbano contra ameaças que vem de cima, a altura resultante é muito maior que na instalação original, pois é necessário deixar espaço para a movimentação do tubo e culatra nos ângulos máximos de elevação e tiro, tendo como resultado o "neck", um ponto fraco visível para o inimigo.

3105 caiafaEssa imagem mostra o "neck" oriundo da instalação de uma torre 3105 no Leopard 1. Firma: Roberto Caiafa

Quanto a HitfactI II, segundo a Leonardo, que produz a torre em La Spezia, testes de integração realizados no MBT Ariete, que possui abertura anular de casco similar a dos Leopard, comprovaram que a sua integração aos blindados alemães não exige intervenções ou adaptações mais drásticas, porém permanece o risco de realizar a integração de uma torre nova a um chassis antigo com data para deixar de funcionar, além do que, obviamente, trocar a torre e introduzir um novo armamento/munição é uma escolha bem mais onerosa.

Foi exatamente essa a conclusão de um documento publicado pela Diretoria de Material do Exército Brasileiro.  Nesse documento, a DMat também não recomenda a troca da torre pela absoluta falta de recursos orçamentários para fazê-lo, e uma modernização mais econômica deve ser o caminho, independente do setup escolhido.

Ariete com Hitfact 2MBT Ariete equipado com a torre Hitfact II para testes. Firma: Leonardo

Isso se a modernização do Leopard 1A5 BR realmente acontecer tal como planejada 

Com a compra do Centauro 2 e o salto quântico em modernidade que essa entrega proporcionou, ficou difícil justificar o empenho de dinheiro público em plataformas antigas por um período de uso de poucos anos a frente (exatamente o questionamento pelo qual passa a modernização do EE-9 Cascavel). 

Ademais, o novo carro de combate sobre lagartas que o Exército Brasileiro ambiciona, segundo o que já se conhece dos estudos realizados pelo Forças Blindadas (Projeto VBC CC Futuro), ainda não está exatamente disponível no mercado, e portanto, a janela temporal ainda está aberta para a substituição definitiva dos Leopard 1A5 BR.

Ares turret inside caiafaA torre modernizada da ARES prevê manetes de controle ergonômicos, telas touch screen e novos optrônicos/laser system. Firma: Roberto Caiafa

Timeline

A decisão de modernizar o Leopard 1A5 BR foi publicada nasPortarias EME/C Ex Nº 847 e 848 que contem os requisitos operacionais (EB20-RO-04.060) e técnicos, logísticos e industriais (EB20-RTLI04.066) da viatura blindada de combate e carro de combate corrente (VBC CC Corrente), dentro do Programa Estratégico do Exército (Prg EE) Forças Blindadas.

O projeto original de atualização proposto previa a modernização de 116 unidades dentre os 200-220 VBC CC disponíveis, uma extensão de vida útil para 50% da frota por mais 15 anos (2022/2037) com implementação de um pacote de Apoio Logístico Integrado (SLI) garantindo a disponibilidade desse material. 

Esse percentual foi reduzido para 25% da frota a ser modernizada, um ajuste orquestrado entre a Diretoria de Materiais (DMat) e o Estado-Maior do Exército (EME), visando abreviar o tempo de transição até a escolha do vencedor no Projeto VBC CC Futuro, o substituto do Leopard 1A5 BR

Sistema c2 tela ares caiafaA tela LCD touch screen da ARES proposta para a modernização da torre do Leopard 1A5 BR. Firma: Roberto Caiafa

O RFQ ou Request for Quote destinado ao mercado, que deveria ter sido publicado ao final de 2022, deverá ser oficializado no 2º semestre de 2023. Dentre as empresas interessadas, já são esperadas como participantes dessa licitação a KMW do Brasil, filial do fabricante original do veículo, as também alemãs FFG, que além dos seus veículos especializados de engenharia e novidades elétricas também é especializada em modernizações, e a gigante Rheinmetall Landsysteme GmbH (RLS).

Entre as brasileiras figuram a Ares Aeroespacial e Defesa (Elbit Systems) e Equitron Engenharia. Turquia com Aselsan, Bélgica com a John Cockerill Defense, Itália com a Goriziane SpA e a suíça RUAG complementam o set de empresas internacionais que já demonstraram interesse na modernização caso ela aconteça.

Ares turret leo caiafaA torre modernizada com seus novos optrônicos para comandante e atirador, no estande da ARES durante a LAAD 2023. Firma: Roberto Caiafa

O fim de uma era

Em uma decisão claramente afetada pela Guerra na Ucrânia, que provocou o desaparecimento dos suprimentos para Leopard 1 no mercado internacional, o Exército Brasileiro tornou pública, em meados de setembro último, a decisão polêmica, mas aguardada por este autor, o cancelamento da modernização do leopard 1A5 BR.

Exército Brasileiro, através do website do Comando Logístico (COLOG), tornou pública a decisão de postergar, por prazo indeterminado, a solitação de Request for Proposal ou RFP para a indústria, versando sobre o Programa de Modernização da VBC CC Leopard 1A5 BR

O texto, de forma direta e curta, categoricamente declara ""O RFP para a Modernização da VBC CC Leopard 1 A5 BR está postergado devido à alta demanda de peças para blindados no mercado internacional. Não há previsão para seu lançamento."" 

CAPA FAILLEPrd

A conclusão a qual o Exército Brasileiro chegou neste mês de setembro é a mesma que a Aliança Atlântica ou NATO já externou ao final de 2022, os carros de combate Leopard 1 A5 operacionais no Ocidente, ou serão enviados para a Ucrânia, equipando as forças blindadas daquele País na defesa contra o invasor russo, ou o 'feliz' operador de Leopard 1 ficará sem peças de reposição, componentes consumíveis e quaisquer outros insumos logísticos.

A prioridade é a Ucrânia, em se tratando de Leopard 1, e isso é definitivo.

Leopard 1A5 latrun israel caiafaHá 33 anos, o Museu de Latrun, em Israel, recebia esse Leopard 1A 5 da foto como doação, exatamente do mesmo modelo que o EB comprou da Alemanha em 2006, ou seja, peças de museu funcionais. Firma: Roberto Caiafa

Traduzindo, o Exército Brasileiro conseguiu a nada vantajosa posição de ficar "encaixotado" em uma incrível situação onde os mais de duzentos Leopard 1 A5 que possui, em excelentes condições operacionais e com suprimentos de munições, podem acabar canibalizados paulatinamente para manter uma frota mínima, enquanto o negócio óbvio que todos enxergam, o Brasil vender ou ceder esses blindados para a Ucrânia, com garantias de créditos dos países europeus interessados em viabilizar o negócio, provavelmente será descartado pelo atual presidente brasileiro como uma opção de financiar novos blindados. 

O que é certo nisso tudo? 

A vida útil dos Leopard 1A5 BR no Exército Brasileiro termina no último dia de 2027, quando o contrato com a KMW do Brasil expirar.

Leopard 1 A5 BR y M-113 BR: poder de combate en el sur de BrasilO Leopard 1 A5 BR é a espinha dorsal das forças blindadas do Exército Brasileiro. Firma: Roberto Caiafa

O M60 A3 TTS

O M60 entrou em serviço em 1960 e foi o principal carro de combate do Exército dos Estados Unidos da América e do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos da América até meados dos anos de 1980, quando começou a ser substituído pelo M1 Abrams.

Foram fabricados mais de 15.000 unidades e diversos países ao redor do mundo utilizam esse blindado,entre eles Áustria, Brasil, Egito, Etiópia, Grécia, Israel, Itália, Irã, Jordânia, Líbano, Arábia Saudita, Espanha, Portugal, Tailândia, Taiwan, Turquia, etc.

A Vbccc M60 foi dotada com um canhão 105 mm L7A3 e duas metralhadoras, sendo uma de calibre 7.62 mm, coaxial ao canhão e outra calibre 50, na torreta do comandante do carro. Ao longo do tempo a Vbccc M60 foi sendo modernizada e novas versões foram surgindo.

M60 09Linha de fogo com os M-60 brasileiros. Firma: Exército Brasileiro

O Exército Brasileiro utiliza, desde 1997, a versão M60 A3 TTS

Os remanescentes desses blindados hoje mobiliam o 20º Regimento de Cavalaria Blindado (20º RBC), na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, sendo responsáveis pela defesa das fronteiras no centro-oeste (Paraguai e Bolívia).

A versão M60 A3 TTS conta com um sistema de controle de tiro computadorizado, telemetro laser, Sistema de Defesa Química, Biológica, e Nuclear (DQBN) e sistema de observação e pontaria que utiliza a visão termal, possibilitando o combate noturno, chamado Tank Thermal Sight (TTS).

Os estudos do PEE Forças Blindadas indicaram que os atuais M-60 A3 TTS, na forma como se encontram, atendem as necessidades de combate nas fronteiras do Centro-Oeste brasileiro, e portanto, decidiu-se pela não modernização desses veículos, deixando os Leopard 1A5 BR como única opção viável. 

Dos 91 M-60 A3 TTS declarados em carga, cerca de 66 deles encontram-se funcionais, com uma disponibilidade média de 50% da frota. Esses números incluem dois pequenos destacamentos desses MBT´s que servem a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e ao Centro de Instrução de Blindados (C I Blnd).

M60 07Os M-60 A3 TTS também são empregados em pequeno número na Academia Militar das Agulhas Negras, a AMAN. Firma: Exército Brasileiro



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