Ao decolar pela primeira vez no início de fevereiro, o KC-390 da Embraer não só confirmou a capacidade da empresa em projetar e construir uma aeronave de transporte militar multitarefa da classe de 23 toneladas, como demonstrou mais uma vez o acerto na escolha dos parceiros de risco do programa industrial posto em prática para produzir inicialmente 28 exemplares destinados a Força Aérea Brasileira (FAB), cliente lançador do tipo e responsável pela definição dos requisitos operacionais do jato. Em abril de 2009, foi assinado um contrato de R$ 3 bilhões para o desenvolvimento e construção de dois protótipos em um prazo de sete anos. Segundo a FAB, a entrega das primeiras unidades de série deverá ocorrer ainda em 2016. O KC-390 atraiu, até a data do seu primeiro voo, o interesse de outros cinco países com 32 aparelhos. Os possíveis compradores são o Chile (6), a Colômbia (12), a Argentina (6), Portugal (6) e República Tcheca (2). A previsão é de que o programa renda ao Brasil em torno de US$ 20 bilhões (R$ 33,76 bilhões) em exportações. Tido como um moderno sucessor para o veterano Lockheed C-130 Hércules em suas diversas variantes, o KC-390 reúne avançadas tecnologias e capacidades multitarefa em uma célula compacta, robusta e capaz de proporcionar aos seus operadores um desempenho superlativo, com maior velocidade média e agilidade incomparável de carga e descarga, previsão para operação em pistas rústicas ou semi-preparadas, provisões para a instalação de kits de configuração bombeiro, EVAM/MEDEVAC, tropas e seus equipamentos, paraquedistas, cargas das mais diversas, etc.
O desenho do avião, com asa alta de caixa estrutural que não atravessa a fuselagem, permite ao KC-390 embarcar blindados do porte de um Mowag Piranha 8x8 ou um Guarani VBTP-MR 6x6 sem a necessidade de realizar a desmontagem de nenhum componente complexo. Helicópteros de médio porte podem ser transportados semi-desmontados (rotores removidos), e veículos de infantaria, palets militares padronizados e outras cargas podem ser rapidamente arranjadas. O piso é do tipo equipado com roletes e pontos de ancoragem reforçados, dispondo de encaixes para diversas configurações e equipamentos. O compartimento de carga tem largura de 3,35 m; altura de 2,94 m (mínima) e 3,20 m (máxima); comprimento de 12,68 m (piso) e 18,54 m (teto). Podem ser transportados até 80 soldados equipados ou 64 paraquedistas; sete pallets de carga; pode ser modificado com espaço para até 74 macas (EVAM/MEDEVAC); ou pode embarcar um blindado de até 22 toneladas ou três veículos utilitários de sete toneladas cada. Trata-se da maior aeronave já projetada no Brasil, sendo quase 50% mais pesado que o Embraer E-JET 190/195. Com desempenho e capacidade de carga superior ao C-130 Hércules, o KC-390 é capaz de pousar em locais inóspitos (como Amazônia e Antártida) e zonas de conflito, possibilitando o desembarque imediato de tropas e veículos de combate, além de fazer o reabastecimento de outras aeronaves em pleno voo (podendo reabastecer-se em outra aeronave usando uma sonda IFR fixa).
Industrialização do KC390
De acordo com a Estratégia Nacional de Defesa (END), uma das premissas fundamentais do projeto é priorizar, sempre que possível, a indústria nacional na produção de componentes do KC-390, que vão desde a blindagem até armários, equipamentos de apoio em solo, escadas, cozinha de bordo e a estrutura necessária para a linha de montagem. A expectativa, segundo a FAB, é que a produção do KC-390 gere 12,6 mil empregos no País.
O avião usa, entre diversos itens importados, equipamentos de aviônica 'no estado da arte', como sistemas de controle de voo totalmente elétricos (fly-by-wire); moderno sistema de missão abrangente, incluindo o cálculo preciso do ponto de lançamento de carga (CARP); sistema de autoproteção (SPS) que garante a capacidade de reconhecimento do entorno e sobrevivência em ambientes hostis, permitindo à aeronave detectar e reagir a diversas ameaças; contramedidas para despistar mísseis infravermelhos que utiliza um laser de última geração, baseado em fibra ótica, capaz de gerar um feixe de energia para inibir mísseis guiados por infravermelho alguns quilômetros antes de eles ameaçarem o KC-390 (DIRCM); head up display (HUD) duplo para fornecer informações no campo de visão dos dois pilotos durante todas as fases do voo.
A funcionalidade de decolagem sob baixa visibilidade oferecida pelo HUD dá ao KC-390 agilidade para operar seguramente sob condições severas e adversas. Além disso, uma câmera colorida instalada na cabine de pilotagem registra a visão do piloto sobreposta com as informações geradas pelo visor ao nível dos olhos, para fins de análise pós-missão. Os motores turbofan IAE V2500-E5, muito utilizados em aeronaves da aviação comercial internacional, possuem ampla rede de assistência técnica mundial e gozam de excelente confiabilidade e maturidade de projeto, sendo também considerados reatores econômicos e relativamente simples de serem mantidos.
Fotos: Embraer Defesa & Segurança
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