A Força Aérea Brasileira, que completou recentemente 75 anos (nascida em combate durante a 2ª Guerra Mundial, em 1941) definiu e está pondo em serviço novos vetores e armamentos; aperfeiçoando e atualizando sua doutrina; adequando e modernizando sua capacidade de ensino e treinamento; ampliando seu leque de missões; remanejando unidades e bases; profissionalizando e enxugando efetivos; e muito mais.
Em janeiro de 2016, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato, assinou a Diretriz do Comando da Aeronáutica (DCA 11-45) que projeta o futuro da instituição. A Concepção Estratégica – Força Aérea 100 estabeleceu objetivos e principais desafios que a FAB deve alcançar nos próximos 25 anos.
Segundo Rossato declarou a época, a qualificação dos profissionais do Comando da Aeronáutica receberia grande incremento, produzindo assim um efetivo de alta capacitação operacional e administrativa, referência para outras instituições da área governamental.
Para discutir esta mudança estratégica, o comandante da Força recebeu Infodefensa.com em Brasília no Comando da Aeronáutica. Desse encontro surgiu uma entrevista que, devido ao seu tamanho, será publicado em duas partes, a primeira das quais podem ser lidos abaixo.
Qual deverá ser o papel da Força Aérea Brasileira em 2041?
O papel da Força Aérea Brasileira será o mesmo que temos hoje, ou seja, manter a soberania do espaço aéreo com vistas à defesa da pátria. Certamente os meios aéreos, a interoperabilidade, a capacidade de comando e controle, a estrutura organizacional e o perfil de qualificação dos militares receberão ajustes e aperfeiçoamentos, abandonando práticas que já se justificaram um dia, mas hoje não representam mais as necessidades de uma Força Aérea moderna, inserida no século XXI.
Quais são as principais ameaças para o país?Hoje, temos que nos precaver das ameaças externas, geradas pela cobiça que despertam nossas riquezas e nossas imensas áreas de vazio demográfico. Também precisamos atender a nossa população em situações de crise, como no caso de enchentes, epidemias, queimadas e secas. A carência de outros meios de transporte, as distâncias e a rapidez no atendimento por via aérea tornam a Força Aérea corresponsável na solução de problemas que estão dentro de seu alcance, especialmente nos distantes rincões amazônicos e fronteiras secas naturais. Este tipo de missão faz, também, com que a população perceba a Força Aérea como sua protetora, não apenas contra ameaças externas, mas também para situações que precisam da intervenção do Estado.
No tocante aos meios aéreos, quais as perspectivas para os próximos 25 anos?
Nossa Força está em processo de modernização e substituição de seus meios. Muitas mudanças já foram efetivadas como a implantação das aeronaves Embraer A-29 Super Tucano, helicópteros de ataque AH-2 Sabre (MIL MI-35) e manobra Sikorsky H-60 Black Hawk. Outras estão em processo de recebimento, como mais exemplares do SC-105 Amazonas (Busca & Resgate SAR), helicópteros de médio porte Helibras H-36 Caracal e jatos avançados Embraer IU-50 Legacy 500, estes sendo entregues ao GEIV (Grupo Especial de Inspeção em Voo). A modernização do caça Northrop F-5E para o padrão Mike está sendo finalizada com o upgrade de três células biplaces F-5F remanescentes, oriundas do lote jordaniano adquirido em 2011. O programa de modernização do Embraer A-1 AMX foi realocado, somente um esquadrão terá aeronaves modernizadas e se manterá operacional na Base Aérea de Santa Maria, juntamente com outro esquadrão que executa missões de reconhecimento com aviões da versão RA-1 (que não serão modernizados). O 1º/16º GAV, Esquadrão Adelphi, atualmente baseado em Santa Cruz (Rio de Janeiro), será desativado e suas aeronaves estocadas, formando uma reserva estratégica.
E depois há as jóias da coroa, o KC-390 e 'Gripen'.
Sim. As modificações mais expressivas ocorrerão nos próximos anos com o recebimento do jato de transporte militar Embraer KC-390 e do caça de 4ª geração Saab F-39 Gripen E, sendo que estas duas aeronaves constituirão a linha mestra da aviação de transporte e caça.
E no espaço?Também. Outra importante conquista que se materializará em 2017 será a capacidade de operar satélites a partir do lançamento (previsto para março de 2017) do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC). Fechando esse quadro, a FAB está investindo cada vez mais na aquisição e introdução em serviço de aeronaves remotamente pilotadas. As Forças Armadas precisam urgentemente incorporar estes meios (ARPs) em suas atividades militares e, por razões de afinidade, cabe ao Comando da Aeronáutica a iniciativa desta responsabilidade. Há alguns anos, a FAB visualizou a importância das aeronaves remotamente pilotadas e criou o Esquadrão Hórus (1º/12º GAV, sediado em Santa Maria – RS). Entretanto, esta unidade tem como missão fundamental o desenvolvimento doutrinário utilizando as aeronaves Hermes 450 e Hermes 900, envolvendo não apenas o Comando da Aeronáutica, mas também as Forças irmãs. Foram elaborados os requisitos para um ARP conjunto e estabelecido um conceito de emprego que irá beneficiar as três Forças, como também outros parceiros que necessitam este tipo de equipamento. No momento, o andamento do programa depende da alocação de recursos financeiros (a Harpia, uma empresa criada pela EDS para esse fim, não sobreviveu aos cortes orçamentários e foi extinta em 2016).
O F-5EM / FM já tem 41 e T-25 e o "Tucano" são muito antigas. ¿Relief é esperado para treinadores em serviço?
O F-5 tem potencial para permanecer em serviço por pelo menos mais dez anos, especialmente no caso das unidades biplaces, tanto que vamos recuperar até o F-5FM que se acidentou recentemente em Santa Cruz (FAB 4806, julho de 2016). O T-25 Universal é uma aeronave livre de fadiga estrutural, e portanto pode receber melhoramentos e continuar por mais duas décadas talvez, só não o fizemos ainda por questões orçamentárias. Dentro deste conceito de adaptação dos meios ao cumprimento da missão, quando desativarmos os T-25 e, posteriormente, os T-27 Tucano na instrução primária e básica de nossos pilotos, acredito que usaremos um único avião, como já se torna usual em outras Forças Aéreas. Para a substituição de ambos, pensamos que uma versão do TX-C da Novaer equipado com motor turboélice e cadeira de ejeção, além de aviônica digital similar a da primeira linha, seria o ideal.
E sobre o treinador Unasul?
Apesar de mantermos um oficial observador, não acreditamos que o programa do treinador conjunto da Unasul resulte em uma aeronave factível, mesmo por que já temos no Brasil a EDS e a Novaer com aeronaves prontas para atenderem a esse requerimento. Gradualmente, estamos desativando os helicópteros H-1H e transportes quadrimotores C-130 Hércules mais antigos, todos com mais de quarenta anos em atividade. O F-39 Gripen e o KC-390 também deverão atender à Força Aérea por um longo período de tempo em serviço, e certamente receberão aperfeiçoamentos advindos de um bem elaborado programa MLU (midi-life-upgrade), o que os manterão fora da obsolescência por toda a vida útil.
Continuará a Tenente-brigadeiro Rossato (Brasil): "A capacidade de dissuasão na guerra moderna é baseada em poder aéreo"
Imagens: Roberto Caiafa