Destaque da 4ª Mostra BID Brasil, o blindado 6x6 sobre rodas Engesa EE-9 Cascavel retrofitado pela Equitron, empresa brasileira localizada em São Carlos (interior do Estado de São Paulo) utiliza conceitos que aumentam a capacidade de sobrevivência desse tipo de veículo de reconhecimento ligeiro usando soluções de baixo custo e grande eficiência.
No caso do EE-9 Cascavel, veículo da extinta Engesa e base para o projeto, a Equitron já possuía experiência apoiando, como subcontratada, o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) no retrofit e revitalização desses carros.
O Projeto Fênix (modernização do Cascavel) tinha a finalidade, quando foi implementado, de manter a Cavalaria Mecanizada atualizada até a materialização da Nova Família de Blindados de Rodas NFBR, cujos Requisitos Operacionais Básicos (ROB) foram colocados em 1999. Esse ROB daria origem, anos depois, ao VBTP-MR 6x6 Guarani.
O Projeto Fênix foi iniciado nos idos de 2003/2004 com a finalidade de modernizar os mais de 200 EE-9 Cascavel do Exército com sistemas de visão noturna para o motorista e sistemas de condução de tiro atualizados para motorista e comandante do carro.
O desembolso de recursos (verbas) nunca permitiu isso, e ocorreu somente a manutenção da frota no Arsenal de Guerra de São Paulo, trabalho esse que contou com expressiva participação da Equitron.
Para atender essa demanda, e valorizando o conceito COTS (commercial off the shelf), a Equitron concebeu soluções de engenharia eficientes com uma arquitetura atraente usando itens consagrados no mercado de caminhões pesados e sensores para veículos militares.
Com experiência de 30 anos produzindo linhas de montagens, células robotizadas e equipamentos especiais para soldagem e testes não destrutivos, a Equitron conta com uma área construída de 6.000m² e um corpo de 80 colaboradores.
Sistema de Tiro / Torre
Sensores diurnos/noturnos e câmeras CCD/termais COTS fabricadas pela empresa holandesa Orlaco, mais a expertise em projeto, programação, robótica e criação de toda a interface funcional pela empresa brasileira resultaram em um conjunto de sistemas integrado dentro de um "sistema torre" capaz de ser acoplado a qualquer solução militar 6x6 ou 8x8 sobre rodas em desenvolvimento.
Bastante modificada pela Equitron, a torre do EE-9 recebeu sistema eletro-hidráulico de giro e elevação do tubo de 90mm CM90 Mk.3 (back-up através de sistema manual), algo muito semelhante ao usado nos MBT KMW Leopard (mas de concepção nacional), sistemas de telêmetro laser, termal e infravermelho da Orlaco (integrados para o canhão, metralhadora e lança mísseis pela Equitron) selecionável pelo comandante e/ou atirador través de um joystick/manete e telas associadas, aumento da capacidade de munição na torre (extensão com novo projeto), e elevação da mesma na sua base com nova instalação que dá maior segurança a posição do motorista (no casco do carro).
O tubo lança mísseis (e o periscópio de mira/designação de alvos) pode ser dimensionado para receber tanto sistemas ATGM do tipo bean-rider MSS 1.2 (acoplando o telêmetro laser do carro) ou os mais sofisticados Attaka russo e Spike israelense (sistema de aquisição e guiamento de alvos autônomo). Nessa fase do projeto, entretanto, o tubo é apenas conceitual e serve para a validação dos conceitos, não portando qualquer sistema.
Motorização
O EE9 Cascavel modificado pela Equitron sofreu uma grande cirurgia na sua traseira para abrigar um motor MTU/Mercedes eletrônico de 300 cv, com sobrealimentação turboblower e intercooler, acoplado à nova caixa automática de 6 marchas da alemã ZF em um conjunto completo importado + nova caixa de descida de fabricação própria, caixa de transmissão múltipla/reduzida Mercedes, tudo montado em um subchassis, o que permite a retirada do conjunto de força completo em 1 hora, empregando entre outros recursos técnicos modernos conectores rápidos, como usado nos blindados M113, M60 e Leopard empregados pelo Exército Brasileiro.
A suspensão boomerang recebeu melhoramentos de performance, o sistema de freio a disco é completamente novo, assim como o design dos exaustores do motor, que direcionam o ar para cima e não para trás, reduzindo a assinatura térmica do carro.
Falando em temperatura, o EE-9 da Equitron oferece um sistema de ar condicionado para a tripulação, um item muito apreciado no veículo de testes.
Todos os sistemas introduzidos passam a ter monitoramento digital integrado com telas coloridas multifuncionais para cada posto, com funções touch screen e grafismos em português, numa configuração similar a produzida para a VBTP-MR 6x6 Guarani.
Imagens: Roberto Valadares Caiafa / Infodefensa